Pendido, \u00e0 cata do sol que a vida lhe ilumina, o jacarand\u00e1 parece ofertar-lhe alguns ramalhetes de suas flores. Azuis flores escoriadas de roxo.
\nEncarecido jacarand\u00e1 ali nascido, que as m\u00e3os dele na terra escalavrada depositou com carinho e gosto. Ele foi crescendo, tomando corpo, ganhando robustez aos poucos. Agora, uma altiva donzela a espargir suas d\u00e1divas feitas de sombra e daquelas roxas flores marchetadas de azul, discretamente lindas, espargindo beleza e alegria \u00e0quele espa\u00e7o.
\nCaprichosa, agradecida, com o extremoso trato que lhe devota, tem sempre vivos \u00e0 sua vista, quando as esta\u00e7\u00f5es lhe autorizam, uns cachos vi\u00e7osos para contempla\u00e7\u00e3o e envaidecimento dele. Que decerto ao mir\u00e1-la, furtiva ou frontalmente deve orgulhar-se feito um genitor ante os dotes admir\u00e1veis de uma sua menina.
\nAinda a\u00ed n\u00e3o se esgota sua dadivosa retribui\u00e7\u00e3o a seu progenitor. Que, para n\u00e3o deixar que consigo extinga sua majestosa beleza, produz sua reprodu\u00e7\u00e3o em uma vagem, cujo formato segue o belo que a veste. E sua p\u00e9rola repousa revestida de camadas esponjosas como a dar toda a guarida para a absoluta preserva\u00e7\u00e3o de tal rel\u00edquia. Um jacarand\u00e1 amado retribuindo com seu esplendor.
\nTodavia, bem sabe, n\u00e3o lhe poder obter exclusividade. Nem nunca pensou isso conquistar ou mesmo lhe pedir. \u00c9 coisa esta da natureza humana. L\u00e1 eles se querem uns aos outros com exclusividade. Assim n\u00e3o d\u00e1 para ser com plantas. Ela mesma ali publicamente exposta n\u00e3o \u00e9 apenas dele. Sua beleza est\u00e1 para os transeuntes. H\u00e1 os que n\u00e3o a v\u00eaem, sequer. V\u00e3o olhando para os seus problemas, n\u00e3o t\u00eam olhos para \u00e1rvores ornamentais. Talvez apenas as pressentem \u00e0 medida que passam. Por certo, tem-nas como algo natural. Que ali est\u00e1 e que parece sempre ter estado. Capazes mesmo de n\u00e3o se lembrarem de que uma delas existiu anos a fio onde hoje h\u00e1 t\u00e3o-somente ch\u00e3o de cimento.
\nEntretanto se sente uma \u00e1rvore dele e para ele. A ele se entrega. Para ele se embeleza. Para ele p\u00f5e vi\u00e7osas e arom\u00e1ticas suas roxo-azuis florzinhas. Por ele aprimora os rendados verdes de suas delicadas folhas, que ao sol rebrilham. Ser p\u00fablica \u00e9 sua condi\u00e7\u00e3o de ser da Terra. Ser dele \u00e9 sua op\u00e7\u00e3o de amor por outro ser da Terra. \u00c9 compreens\u00edvel que ele se divida. Afinal, uma \u00e1rvore s\u00f3 n\u00e3o faz um admir\u00e1vel jardim. Mais de uma \u00e9 necess\u00e1ria para sua efic\u00e1cia. Da\u00ed, por certo, a dedica\u00e7\u00e3o dele \u00e0s duas outras.
\nA ac\u00e1cia entremeia-se com ela e a brinco-de-princesa. N\u00e3o sabe por que essa ordem. Se quis \u00e0 ac\u00e1cia destacar em virtude de umas suas certas propriedades chamativas. Soube que se trata de uma ac\u00e1cia-vermelha, cujas flores s\u00e3o r\u00f3seas. Ela (tem de admitir) vai formando formoso e elegante porte. Erecta, vai, quase simetricamente, abrindo seus galhos longos, langorosamente perpendiculares, figurando-lhe um porte espada\u00fado, indo a cada dia em busca de seus dez metros de altura. J\u00e1 vai com ela ombreando-se. N\u00e3o lhe ganhar\u00e1 em tamanho, contudo \u00e9 de novo justo admitir que se lhe sobrep\u00f5e em eleg\u00e2ncia. Sua esperan\u00e7a \u00e9 que, no final, se n\u00e3o se lhe igualar, tenha o suficiente para dela nada cobi\u00e7ar. Sabe-se bela e muito querida. Isto lhe basta.
\nA pingo-de-ouro n\u00e3o passa ainda de um broto. Mesmo quando adulta lhes dever\u00e1 muito em altura. Por\u00e9m nada tem de desmedido e desengon\u00e7ado em sua compostura. No geral, tornam-se, as pingos-de-ouro, numa pequena not\u00e1vel. Mimosas, elegant\u00edssimas em seu colorido magistral. Mais imediatamente atrativas com seu ouro encarnado, que a recobre toda.
\nTamb\u00e9m com ela o v\u00ea despendendo demoradamente sua aten\u00e7\u00e3o. N\u00e3o sabe se a ac\u00e1cia,quanto a pingo-de-ouro lhe tem dela o amor. Como tamb\u00e9m n\u00e3o sabe o quanto do amor dele a elas. Sabe, sim, que a elas ama, porque muito bem as cuida.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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