{"id":200,"date":"2006-12-27T23:16:30","date_gmt":"2006-12-27T23:16:30","guid":{"rendered":"http:\/\/poetagem.com.br\/?p=200"},"modified":"2016-09-23T23:18:54","modified_gmt":"2016-09-23T23:18:54","slug":"o-que-nos-diz-respeito","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/poetagem.com.br\/2006\/12\/27\/o-que-nos-diz-respeito\/","title":{"rendered":"O que nos diz respeito"},"content":{"rendered":"
Os fragmentos de horizonte persistentes n\u00e3o nos dizem respeito. Recompostos, restabelecer\u00e3o os enigmas incur\u00e1veis. Tornar\u00e3o a dependurar os des\u00edgnios solertes para que renovadas esperan\u00e7as retomem os caminhos a seu encalce.
\nMesmo o arco-\u00edris indispon\u00edvel com sua indument\u00e1ria engalanando o arco-da-velha, eterna maga, que surde ef\u00eamera, ostentando sua multicolorida ilumin\u00e1ria, arrebatando olhares encantados e empapados de sonhos, mesmo esse arco-da-velha \u00edris eterno n\u00e3o nos diz respeito.
\nO azul aberto em infinito, avesso ao fixo, e indo para al\u00e9m do visto, tradu\u00e7\u00e3o imediata e necess\u00e1ria aos sentidos humanos do v\u00e1cuo c\u00f3smico com seus astros-naves, son\u00e2mbulos perambulando \u00e0 toa, indo para lugar nenhum, n\u00e3o nos dizem respeito.
\nEsse vagar son\u00e2mbulo da Lua dando \u00e0 Terra luz e sombra, investida de Sol compondo o dia, e que, ao ved\u00e1-lo, esparge a escurid\u00e3o da noite, permitindo o acender-se de estrelas tremelicando feito bilh\u00f5es de pirilampos, n\u00e3o nos diz respeito.
\nO aparente caos feito de luz e umidade; \u00e1rvores, cipoal, folhas, flores, em que habitam animais imagin\u00e1veis e inimagin\u00e1veis em plena conviv\u00eancia determinada pela lei da selva, desde os mais \u00ednfimos insetos \u00e0s descomunais girafas e elefantes, n\u00e3o nos diz respeito.
\nO complexo tempo, esse agente controverso, que n\u00e3o \u00e9 mo\u00e7o, nem velho tampouco, que \u00fanico sendo muitos e muitos, de uma indivisibilidade absoluta com suas manifesta\u00e7\u00f5es concretas, que se fazem atrav\u00e9s do dia e da noite, da madrugada ao crep\u00fasculo; do inverno, com seus fr\u00edgidos ventos, ao ver\u00e3o, com seus raios e trovoadas e, em meio deles, a primavera.
\nA primavera \u00e9 quando o tempo se disp\u00f5e a mostrar suas gra\u00e7as. Ent\u00e3o esparrama pelas ramas das plantas sua face: mil flores crivadas de outros tantos mil arranjos em tonalidades de cores. A primavera \u00e9 quando o tempo escancara sua infinita alegria feita de si, estampada para si: o tempo se ri a si mesmo. Tamb\u00e9m assim visto, isto n\u00e3o nos diz respeito. \u00c0 natureza, ao cosmo, ao tempo, enfim, igualmente nada dizemos respeito, sen\u00e3o como todos os outros seres.
\nA absurda e criminosa deteriora\u00e7\u00e3o da natureza com o desmatamento vertiginoso, com as polui\u00e7\u00f5es assassinas das mais variadas ordens no ar, na \u00e1gua e no solo; a fome voraz genoc\u00eddia aumentando ainda mais, quanto mais se sofistica a vida humana em tecnologia (depura\u00e7\u00e3o de sua intelig\u00eancia); a discrimina\u00e7\u00e3o na deten\u00e7\u00e3o dos recursos para a sobreviv\u00eancia, que mais alarga o fosso entre os chamados ricos e m\u00e9dios de um lado, e a escandalosa maioria de pobres e indigentes de outro; o progressivo esgotamento de fontes de vida, cuja trag\u00e9dia maior \u00e9 o avan\u00e7ado caminho rumo ao fim da \u00e1gua pot\u00e1vel; a todas essas a\u00e7\u00f5es, e atos, e procedimentos a natureza, o cosmo, o tempo s\u00e3o indiferentes.
\nA n\u00f3s, os homens, apenas e t\u00e3o-somente elas dizem respeito. Ao cabo, apresentar\u00e3o as conseq\u00fc\u00eancias. E uma vez extinta a vida por completo, ir\u00e1 por certo processar-se em milh\u00f5es ou bilh\u00f5es de anos na esterilidade, como, afirmam, j\u00e1 o fez.
\nDepois, depura\u00e7\u00e3o consumada, estabelecer a possibilidade de um outro ser inteligente, escoimado dos genes das estupidezes todas dos anteriores e fa\u00e7a j\u00e1 aqui na Terra o C\u00e9u prometido e pretendido.
\n\u00c9 certo que a cada in\u00edcio de ano, a cada Ano Novo, ficamos co\u00e7ando, ro\u00e7agando a intelig\u00eancia, a alma, pensando quem sabe ainda \u00e9 tempo. \u00c9 que nos impulsiona insistentemente a isso dois talentos divinos que nos dizem respeito e que, por mais que teimamos, n\u00e3o nos deixam: cren\u00e7a e esperan\u00e7a.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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