{"id":292,"date":"2004-04-26T00:50:14","date_gmt":"2004-04-26T00:50:14","guid":{"rendered":"http:\/\/poetagem.com.br\/?p=292"},"modified":"2016-09-24T00:51:02","modified_gmt":"2016-09-24T00:51:02","slug":"iniciacao","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/poetagem.com.br\/2004\/04\/26\/iniciacao\/","title":{"rendered":"Inicia\u00e7\u00e3o"},"content":{"rendered":"\n\n\n
Data 26\/abril\/2004<\/span><\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n

\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0Propagadores de produtos havidos como educativos e pedag\u00f3gicos. Vendedores de objetos e materiais tidos ou difundidos como educativos ou pedag\u00f3gicos. Cursos de v\u00e1rias naturezas. O cotidiano das escolas \u00e9 recheado desses procedimentos. A informalidade trabalhista deve ter contribu\u00eddo muito para que o fluxo de tais atividades se expandisse. E educada e democraticamente atend\u00ea-los significa n\u00e3o apenas desestabilizar as atividades escolares, como descaracterizar os fins de um sistema e ensino.
\nEnt\u00e3o ali, em raz\u00e3o do conjunto de conseq\u00fc\u00eancias danosas, n\u00e3o era permitido entrada de elementos estranhos \u00e0 sala de aula. Decis\u00e3o tomada pelo Conselho de Escola, referendada pela APM e corroborada pela assembl\u00e9ia de pais.
\nN\u00e3o obstante, \u00e0s vezes surgiam alguns casos que, ou ainda n\u00e3o haviam sido informados do procedimentos daquela escola, ou, ainda que sim, sempre acreditavam em seus poder de convencimento e l\u00e1 iam.
\nRecebia-os. E pachorrentamente aturava ( havendo tantos afazeres esperando a vez) o discurso in\u00f3cuo proferido pelo vendedor\/propagador desfiar as grandes propriedades de seu produto para o desenvolvimento do ensino, as vantagens econ\u00f4mico-financeiras ao or\u00e7amento familiar dos alunos; os brindes para serem sorteados entre os mesmos; outros tantos \u00e0 escola; o estabelecimento de parcerias que eles enfatizam ser recomendadas e aplaudidas pela Secretaria da Educa\u00e7\u00e3o.
\nDepois, ou antes interrompendo, quando o bom senso daqueles n\u00e3o age, a dire\u00e7\u00e3o pachorrentamente sentecia o n\u00e3o seguido do discurso justificador. E nem sempre o indiv\u00edduo d\u00e1- se por satisfeito, por isso as cenas se repetem (os muitos afazeres esperando a vez).
\nPor vezes a situa\u00e7\u00e3o quebrava a rotina. Certos imprevistos desagrad\u00e1veis se deflagravam. O indiv\u00edduo exigia a concretiza\u00e7\u00e3o de seu prop\u00f3sito, porque a Diretora de Ensino n\u00e3o se opunha; porque o que apresentava era recomendado pela Secretaria de Educa\u00e7\u00e3o; porque a dire\u00e7\u00e3o agia de maneira discriminat\u00f3ria, n\u00e3o permitindo que os alunos e seus pais pudessem exercer o direito de conhecer o produto e decidir por si mesmo; porque ali se vetava a ocorr\u00eancia da modernidade educacional que, segundo a mesma, a escola precisa integrar-se \u00e0 comunidade.
\nTodavia, a resist\u00eancia foi minando as insist\u00eancias, mesmo os mais ousados, j\u00e1 n\u00e3o se destinavam a perder tempo em terreno comprovadamente est\u00e9ril. Assim, a escola conseguia funcionar defendida pelo menos dessa intrus\u00e3o, pois j\u00e1 convivia com muitas outras, contra as quais n\u00e3o podia aplicar o mesmo dispositivo preservador.
\nN\u00e3o ficara absoluta e definitivamente, como tudo na vida, livre desse inconveniente. Tempos se passavam. S\u00fabito surgia uma tentativa. E assim foi que certa feita dois deles (aparecerem em dupla, n\u00e3o era incomum) foram anunciados. Ao apresentarem-se um deles, olhos fixos no dele, sorriso aberto, se disse ex-aluno, o Bruno, e que vivia citando-o nas conversas, quando o assunto resvalava para escola, qualidade do ensino, import\u00e2ncia do professor. E ouvia o mesmo de muitos outros presentes \u00e0 conversa. Estava feito o cortejo.
\nO outro se limitara ao cumprimento e \u00e0 apresenta\u00e7\u00e3o habitual. Sentados, Bruno assumiu uma postura solene, assacou uma revista que apresentou como de veicula\u00e7\u00e3o tradicional e amplamente aceita no mercado em virtude de suas s\u00f3lidas e indiscut\u00edveis qualidades educativas em sentido amplo. Educa\u00e7\u00e3o ambiental; sa\u00fade prevenida, valores relacionais humanos. F\u00e1cil, agrad\u00e1vel e atrativa leitura. Seguramente um complemento pedag\u00f3gico de alta qualidade.
\nEle, como de costume, pacientemente ouvindo, prestava aten\u00e7\u00e3o tanto \u00e0 verve de li\u00e7\u00e3o muito bem decorada de Bruno quanto \u00e0s atitudes do colega que a esse observava com disfar\u00e7ado interesse. Esgotada a bem ensaiada prola\u00e7\u00e3o, deu a senten\u00e7a conhecida e esperada pelos mesmos. Ent\u00e3o o outro falou. Solicitou que ele ficasse com um exemplar pelo menos. Era o valor de que dependia a refei\u00e7\u00e3o de ambos aquele dia.
\nPerguntou ao acompanhante se o desempenho de Bruno havia sido aprovado. Surpreso, o acompanhante olhou-o por alguns instantes, olhou para Bruno e argutamente lhe devolveu a quest\u00e3o perguntando o que ele, como ex-professor reverenciado, achara. Disse que sem d\u00favida aprovava-\u00ba
\nE ambos agradecidos foram-se embora com o almo\u00e7o do dia garantido.<\/span><\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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