{"id":311,"date":"2004-07-04T01:08:20","date_gmt":"2004-07-04T01:08:20","guid":{"rendered":"http:\/\/poetagem.com.br\/?p=311"},"modified":"2016-09-24T01:09:11","modified_gmt":"2016-09-24T01:09:11","slug":"construirdesconstruir","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/poetagem.com.br\/2004\/07\/04\/construirdesconstruir\/","title":{"rendered":"Construir\/desconstruir"},"content":{"rendered":"\n\n\n
Data <\/span>04\/jul\/2004<\/span><\/span><\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n

\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0Construir \u00e9 desconstruir, talvez seja a m\u00e1xima m\u00e1xima humana. Nada h\u00e1 que se fa\u00e7a que n\u00e3o decorra da\u00ed ou para a\u00ed se converta. E \u00e9 certo que s\u00e3o atos intricados, conjugados e mutuamente necess\u00e1rios, embora contr\u00e1rios, que, afinal, sin\u00f4nimos n\u00e3o prescindem de ant\u00f4nimos.
\nA crer no que sustenta at\u00e9 agora a ci\u00eancia, assim fez-se com o bigue-bangue; a crer na b\u00edblia, assim se fez com Ad\u00e3o e Eva: do Para\u00edso ao vale de l\u00e1grimas.
\nA desconstru\u00e7\u00e3o \u00e9 ato dos que n\u00e3o constru\u00edram, que por raz\u00f5es ou desraz\u00f5es op\u00f5em-se ao que fora constru\u00eddo. Todavia tamb\u00e9m desconstroem o constru\u00eddo os que se ocupam em construir.
\nDesconstruir para compreender a constru\u00e7\u00e3o ocupa o cotidiano de concentrados trabalhos de cientistas e tecn\u00f3logos. Dedicam a vida a desconstruir a condi\u00e7\u00e3o de ser de cobaias, cad\u00e1veres. Ainda que pressuponham como efeito uma constru\u00e7\u00e3o de benemer\u00eancia humana.
\nQuanto menos tribais, mais civilizados. E as urbes desconstroem formas de vidas prim\u00e1rias por viverem e conviverem povos diferentes numa nova forma de constru\u00e7\u00e3o de vida humana, cujo efeito, a civilidade, \u00e9 dado como a evolu\u00e7\u00e3o global da esp\u00e9cie.
\nEnt\u00e3o, construir implica desconstruir. Desconstruir pressup\u00f5e construir.
\nGuerra \u00e9 ato dado como causa de se desconstruir algo em nome de suposta necessidade de se construir outra coisa. Deu-se a desconstru\u00e7\u00e3o da aristocracia imperial russa para se construir um Estado popular cujo resultado foi a conhecida Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica. Esta mesma, d\u00e9cadas depois, desconstru\u00edda para a nova constru\u00e7\u00e3o de Estados j\u00e1 sidos. A desconstru\u00e7\u00e3o do imp\u00e9rio ingl\u00eas de que resultou a constru\u00e7\u00e3o de nova forma imperial: o moderno e p\u00f3s-moderno imp\u00e9rio dos Estados Unidos da Am\u00e9rica
\nA constru\u00e7\u00e3o de grandes capitais que implicam desconstru\u00e7\u00e3o de muitos pequenos. A desconstru\u00e7\u00e3o de m\u00faltiplas etnias e culturas que assim se fazem na constru\u00e7\u00e3o das que s\u00e3o ostentadas como os valores dignificantes.
\nA desconstru\u00e7\u00e3o do artesanato servidor das simples e modestas necessidades pela constru\u00e7\u00e3o dos complexos, sofisticados e excessivos objetos de mercado de consumo
\nA constru\u00e7\u00e3o de um contingente bilion\u00e9simo de seres humanos em situa\u00e7\u00f5es inumanas de absoluta pobreza e de miserabilidade pela constru\u00e7\u00e3o de abastadas e acumuladas riquezas de alguns milhares.
\nQue h\u00e1 desconstru\u00e7\u00f5es construtivas, as h\u00e1. As que v\u00e3o na contram\u00e3o da hist\u00f3ria; as que v\u00e3o apontadas como contraven\u00e7\u00e3o; as que incomodam, porque desmodelizam, porque incluem, porque desobstruem; as infindas desconstru\u00e7\u00f5es que a linguagem popular descomprometida inflige \u00e0 recatada e conservadora l\u00edngua.
\nA constru\u00e7\u00e3o de grandes hidrel\u00e9tricas para a energia de que depende completamente esta sociedade contempor\u00e2nea, desconstruindo a estrutura de rios cuja forma parecia sagrada, portanto, intoc\u00e1vel. Desconstr\u00f3i-lhes o leito, as margens, as matas ciliares, a fei\u00e7\u00e3o, a imagem. Desconstr\u00f3i povoados; desconstr\u00f3i potenciais constru\u00e7\u00f5es alimentares em terras f\u00e9rteis submergidas.
\nA constru\u00e7\u00e3o de rodovias pavimentadas cujos bens sociais conseq\u00fcentes s\u00e3o inquestion\u00e1veis; cujas desconstru\u00e7\u00f5es de ferrovias e suas tradi\u00e7\u00f5es sociais s\u00e3o deplor\u00e1veis.
\nA constru\u00e7\u00e3o industrial t\u00e3o incensada por seus muitos benef\u00edcios nesta era do capitalismo de mercado de consumo, cujas desconstru\u00e7\u00f5es do l\u00edmpido oxig\u00eanio, da vida de rios, das condi\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas, s\u00e3o inaceit\u00e1veis.
\nA desconstru\u00e7\u00e3o intelectual, cultural, dos valores humanos t\u00e3o caros \u00e0 grandeza pr\u00f3spera do homem solid\u00e1rio, criativo e dadivoso, exatamente porque se construiu a democr\u00e1tica expans\u00e3o da ocupa\u00e7\u00e3o do bancos escolares em todos os n\u00edveis do sistema de educa\u00e7\u00e3o.
\nEnt\u00e3o, h\u00e1 a constru\u00e7\u00e3o que desconstr\u00f3i e a desconstru\u00e7\u00e3o que constr\u00f3i.<\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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