{"id":336,"date":"2004-10-08T01:28:02","date_gmt":"2004-10-08T01:28:02","guid":{"rendered":"http:\/\/poetagem.com.br\/?p=336"},"modified":"2016-09-24T01:28:39","modified_gmt":"2016-09-24T01:28:39","slug":"gaucho","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/poetagem.com.br\/2004\/10\/08\/gaucho\/","title":{"rendered":"Ga\u00facho"},"content":{"rendered":"\n\n\n\n
\n
Ga\u00facho<\/span><\/div>\n<\/td>\n<\/tr>\n
Data <\/span>08\/out\/2004<\/span><\/span><\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n

\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0Sabia nada sobre bois. Apenas por eles tinha uma certa atra\u00e7\u00e3o.
\nA mansid\u00e3o aparente e cotidiana deles. A placidez com que intermitentemente pastam, mesmo quando seco ou palha o capim. Ruminar incessantemente \u00e9 um dos seus tra\u00e7os.
\nSabia um pouco distinguir o boi de carro. Enormes chifres. Tanto quanto o tamanho, o peso. Um boi obeso. Capado. O que tamb\u00e9m o tornava lerdo e pac\u00edfico. D\u00f3cil \u00e0 canga. Afei\u00e7oado ao carro-de-boi modelar. Assim, causa muito estranheza um carro puxado por animal sen\u00e3o deste.
\nE o boi reprodutor. A que se denomina de touro. Solto no pasto. Sem canga, sem nada. Livre para comer, perambular. Sua nobre e privilegiada tarefa era cobrir as f\u00eameas em cio. Volumoso saco dependurado ostentando suas potencialidades fertilizadoras prontas a emprenhar quantas f\u00eameas fossem. E normalmente eram muitas. Que seus propriet\u00e1rios queriam-nas f\u00e9rteis, pr\u00f3digas parideiras.
\nEnt\u00e3o as fazendas medianas tinham o seu touro-mor. Garboso garanh\u00e3o cujo destino era possuir as novi\u00e7as novilhas quando o cio as afligisse. E mesmo certas vacas que ainda padeciam desse at\u00e1vico e irresist\u00edvel desejo de ser possu\u00edda por touro.
\nA fazenda cujo administrador era o av\u00f4 tinha o seu. Belo nerole no vigor de sua pujante e insaci\u00e1vel juventude bovina.
\nGa\u00facho. Toneladas de massa bovina branco-acinzentada. Imperador daqueles alguns pastos, povoados de gado de leite e de engorda. Todo dia inteiro, Ga\u00facho passeando e pastando por toda sua ro\u00e7a.
\nBrutamontes de boi bonito de se querer bem por causa de sua d\u00f3cil bem quer\u00eancia com seus v\u00e1rios donos, os seus familiares da fazenda.
\nQualquer familiar da fazenda fazia Ga\u00facho se entregar de alma e olhos fechados mediante alongadas car\u00edcias a bois. Depois de muito co\u00e7ado, ou a uma interrup\u00e7\u00e3o, Ga\u00facho lambia com sua l\u00edngua-lixa pedindo mais.
\nO av\u00f4, dos grandes conhecedores de gado, daqueles de classificar com detalhes um berro ou mugido n\u00e3o visto, afirmava que Ga\u00facho detinha todos os dotes exigidos de um perfeito touro nelore.
\nEm certos per\u00edodos de tempo a fazenda punha em aluguel o seu mais vasto pasto. Boiada alheia ficava ali m\u00eas, meses confinada. Bom capim, boa aguada de rio. J\u00e1 criara fama de pastagem abnegadora.
\nUma boiada dessas viera carregada de novilhas, f\u00eameas todas de um touro apessoad\u00edssimo. Ga\u00facho, boi daqueles espa\u00e7os, passeava rente \u00e0 cerca observando os h\u00f3spedes.
\nDeu-se que o cio de uma novilha f\u00ea-la engra\u00e7ar-se com Ga\u00facho. O touro h\u00f3spede achou de intervir.
\nBriga de touro era desmedida. N\u00e3o havia o que os apartasse. N\u00e3o havia o que os impedisse. Em v\u00e3o cercas, \u00e1rvores, barrancos. V\u00e3o levando tudo feito tratores de esteira. Cabe\u00e7as presas. Destroem o que est\u00e1 em seu caminho. Somente quando a morte abate um, cessam.
\nTodavia, naquele dia levou ambos. Exaustos, com fundas feridas, ca\u00edram de alto barranco no rio. Ga\u00facho era touro de estima\u00e7\u00e3o. A fazenda ficou triste. Perdera um ente, mais que mero boi reprodutor. N\u00e3o apenas o perfeito touro, perdera o boi Ga\u00facho.<\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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