{"id":340,"date":"2004-10-25T01:29:57","date_gmt":"2004-10-25T01:29:57","guid":{"rendered":"http:\/\/poetagem.com.br\/?p=340"},"modified":"2016-09-24T01:30:29","modified_gmt":"2016-09-24T01:30:29","slug":"ventofogo","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/poetagem.com.br\/2004\/10\/25\/ventofogo\/","title":{"rendered":"Vento\/Fogo"},"content":{"rendered":"\n\n\n\n
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Vento\/Fogo<\/span><\/div>\n<\/td>\n<\/tr>\n
Data <\/span>25\/out\/2004<\/span><\/span><\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n

\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0Esse fen\u00f4meno cotidiano, mas imposs\u00edvel de ser despercebido. Filho do ar que o concebe e o expele, decerto para que o carrossel do universo n\u00e3o se desmantele. For\u00e7a tamanha do vigor do mundo que comp\u00f5e e move.
\nUm poder descomunal. Nada se iguala e com ele demanda. As \u00e1guas, das quais fica imune, pois n\u00e3o o molham, conduz com seu sopro impetuoso.
\nSeu motor faz do mar um seu corredor privilegiado. E d\u00e1 \u00e0 coura\u00e7a do mar movimento eterno quase todo o tempo feito de ondas de toda ordem, de toda sorte.
\nInodoro e ins\u00edpido senhor que do dorso do mar n\u00e3o desapeia. E quando em crises, como gigante b\u00eabado tomado pela f\u00faria violenta, faz no mar devastadora tempestade. P\u00f5e o mar em descomunal vulc\u00e3o cuja erup\u00e7\u00e3o \u00e9 infernal. H\u00e1 cenas antol\u00f3gicas que encantaram e encantam de terror cin\u00f3filos, inveterados leitores de fic\u00e7\u00e3o, de poesia. Atesta-o o g\u00eanio camoniano com quando os lus\u00edadas s\u00e3o tomados de s\u00fabita procela: \u201cAgora sobre as nuvens os subiam\/As ondas de Neptuno furibundo;\/Agora a ver parece que desciam\/As \u00edntimas entranhas do Profundo.\/Noto, Austro, B\u00f3reas, \u00c1quilo, queriam\/ Arruinar a m\u00e1quina do Mundo;\/A noite negra e feia se alumia\/C\u00f3s raios em que o P\u00f3lo todo ardia!\u201d Atesta-o ainda a vida real di\u00e1ria dos povos constantemente sujeitados aos furac\u00f5es que os devastam. Mesmo que agora previstos, h\u00e1 nada que os impe\u00e7am de tudo p\u00f4r em reboli\u00e7o.
\nUm poder sem igual. Nada se lhe iguala. Tampouco o fogo, esse outro elemento poderoso que tudo incinera, menos o vento. Sim, quando muito o aquece. No mais, tamb\u00e9m do vento fica \u00e0 merc\u00ea. Se juntos, \u00e9 mesmo o inferno manifesto em terra. Tantos s\u00e3o os incont\u00e1veis casos dados e os que ainda h\u00e3o de se dar.
\nAo fogo nada cont\u00e9m, se o vento em seu aux\u00edlio vem. Se o vento resolve servir-se de corcel deste m\u00e1gico irm\u00e3o que, inexistente, de s\u00fabita combust\u00e3o qualquer p\u00f5e seus diabos malvados com seus tridentes a espetar fogo em tudo.
\nA fic\u00e7\u00e3o e a vida vivida s\u00e3o palcos memor\u00e1veis do poder desse agente indestrut\u00edvel que, talvez por exaust\u00e3o, cede somente \u00e0 insistente interven\u00e7\u00e3o da \u00e1gua. Que decerto com suas muitas miraculosas car\u00edcias, a que fogo algum resiste, extingue sua f\u00faria bruta, tornando-o ao sossego de sua inexist\u00eancia aparente.
\nQuantos edif\u00edcios vivos incinerados por seu voraz e imposs\u00edvel \u00edmpeto. Quantas matas em tantos pa\u00edses pelo fogo devastadas. Que este, cavalgando seu irm\u00e3o vento, indom\u00e1vel e destrutivamente foi se infiltrando.
\n\u201cA imagem mais viva do inferno.\/E contagioso, como outrora\/foi, e hoje n\u00e3o \u00e9 mais, o inferno:\/ele se catapulta, exporta,\/em brulotes de curso a\u00e9reo,\/em petardos que se disparam\/sem pontaria, intransitivos.\u201d Eis \u201cO fogo no canavial\u201d visto pelo g\u00eanio de Jo\u00e3o Cabral.
\nMas tamb\u00e9m n\u00e3o se perca de vista que o vento e o fogo, estes irm\u00e3os da \u00e1gua amados e amantes, como ela, s\u00e3o dotados n\u00e3o apenas de negatividade. O vento que arrefece \u00e0 Terra o furor da can\u00edcula do Sol. O vento que balou\u00e7a os milharais, os canaviais, os coqueirais. O vento que esparge os muitos aromas pelo ar. O vento que, maroto, p\u00f5e \u00e0 mostra as coxas bonitas das meninas. Vento benfazejo em brisas. Vento que esparge os cantares de p\u00e1ssaros. Vento que modela e remodela a natureza. Vento que oxigeniza vidas.
\nE o fogo n\u00e3o menos. Fogo a cozer os alimentos. Fogo a incinerar os muitos putrefatos e excrementos. Fogo a aquecer invernos inclementes. Fogo a modelar os muitos utens\u00edlios \u00e0 vida. Fogo a queimar a paix\u00e3o, na perpetua\u00e7\u00e3o de gente.<\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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