{"id":354,"date":"2004-12-03T01:37:28","date_gmt":"2004-12-03T01:37:28","guid":{"rendered":"http:\/\/poetagem.com.br\/?p=354"},"modified":"2016-09-24T01:37:58","modified_gmt":"2016-09-24T01:37:58","slug":"verde-amarelo","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/poetagem.com.br\/2004\/12\/03\/verde-amarelo\/","title":{"rendered":"Verde-amarelo"},"content":{"rendered":"\n\n\n\n
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Verde-amarelo<\/span><\/div>\n<\/td>\n<\/tr>\n
Data <\/span>03\/dez\/2004<\/span><\/span><\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n

\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0O ministro risonho encimando a manchete da auspiciosa not\u00edcia, segundo a qual, naquele ano, o crescimento do Pa\u00eds ultrapassara as expectativas. O produto interno bruto, o PIB (soma das riquezas geradas no pa\u00eds), atingira mais de cinco por cento. Motivo para alegria geral em meio aos respons\u00e1veis pela condu\u00e7\u00e3o dos neg\u00f3cios do governo. Afinal, j\u00e1 l\u00e1 se vai meio caminho andado, pelo qual toda sorte de m\u00e1-sorte tem estado \u00e0 beira, ao centro, \u00e0 esquerda e \u00e0 direita. Mais do que \u00e0 espreita, est\u00e3o vivas, exigentes, agressivas, pouco contidas.
\nA tal revigorada esperan\u00e7a de ascens\u00e3o dos espoliados e ignorados, dos que t\u00eam ficado constantemente \u00e0 margem da festa, permanentemente \u00e0 deriva, entra governo, sai governo, se j\u00e1 n\u00e3o foi de cambulhada, ainda pouco, ou quase nada disse a que veio. Embora houvesse um evidente consenso de que viera para a consuma\u00e7\u00e3o do que at\u00e9 ent\u00e3o fora a empedernida esperan\u00e7a
\nUm PIB nunca atingido. Um PIB que teimosa e obstinadamente, sem contrariar os tais consensos de Washignton, os quais, se assim se fizer, vetam as mesadas que continuam almejadas por seus afilhados apaniguados, vai procurando crescer pelas frestas dos trincos de suas paredes que pouco os incomodam. Um PIB que ontem fora o bolo que se deveria fazer crescer, com a pressuposi\u00e7\u00e3o de que, a\u00ed sim, poder-se-ia tomar uma sua parte e distribu\u00ed-la entre os eternamente n\u00e3o-convivas.
\nS\u00f3i que acontecia, todavia, de crescerem os anos e anos do tempo de fazimento e o quinh\u00e3o dos que moeram a farinha, e a parte dos que extra\u00edram o sal, e a parte dos que extra\u00edram o azeite, e a parte dos que tiram o leite, e a parte dos que depuraram o a\u00e7\u00facar, e a parte dos que captaram a \u00e1gua, e parte dos que colheram os ovos, a parte dos que fabricaram o fermento n\u00e3o era dada como crescida ao ponto de entre eles se repartir. Mas os convivas n\u00e3o tinham, n\u00e3o tiveram e n\u00e3o t\u00eam o de que reclamar, pois sempre souberam apropriar-se da padaria e escolher os padeiros.
\nDeu-se que certa vez, n\u00e3o h\u00e1 bem que s\u00f3 se ausente, a empedernida esperan\u00e7a rebrotou. \u00c9 que a vitalidade de sua verde pigmenta\u00e7\u00e3o readquiriu vigor e p\u00f4s-se a manchar o enodoado-pardo do amarelo de t\u00e3o antigo.
\nO que se dera nessa certa vez foi uma retirada dos fazedores de faz-de-conta. Legaram um pa\u00eds abarrotado de dor e d\u00edvida; um pa\u00eds crivado de desilus\u00f5es e pobreza: j\u00e1 anunciavam os institutos de pesquisa e estat\u00edstica nacional e internacional que nele subviviam mais de cinq\u00fcenta milh\u00f5es de indigentes. Um pa\u00eds minado por uma infla\u00e7\u00e3o monet\u00e1ria de voracidade insaci\u00e1vel.
\nEnt\u00e3o o pardo-enodoado do amarelo, cujo encardido parecia irremov\u00edvel, foi ganhando tonalidades do verde-esperan\u00e7a. Um pequeno rev\u00e9s levou o encardido a breve recidiva, por\u00e9m logo recha\u00e7ada. E o verde-esperan\u00e7a mais reverdeceu. Mas continuou esperan\u00e7a. Pre\u00e7os mais est\u00e1veis. Entretanto, o dito crescimento, a passos de pregui\u00e7a. Os obsequiosos investimentos negaceando-se. O contingente dos abaixo da linha de pobreza crescendo. Democracia e pobreza ainda maiores. Uma combinat\u00f3ria indesejavelmente assustadora.
\nDeu-se, pois, que a democracia permitiu aos pobres e indigentes elegerem seu presidente. Meio mandato passado, permanecem na pobreza e na indig\u00eancia. Todavia, mant\u00eam a esperan\u00e7a.
\nAt\u00e9 quando?
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