{"id":358,"date":"2004-12-17T01:39:19","date_gmt":"2004-12-17T01:39:19","guid":{"rendered":"http:\/\/poetagem.com.br\/?p=358"},"modified":"2016-09-24T01:39:49","modified_gmt":"2016-09-24T01:39:49","slug":"dessentido","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/poetagem.com.br\/2004\/12\/17\/dessentido\/","title":{"rendered":"Dessentido"},"content":{"rendered":"\n\n\n\n
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Dessentido<\/span><\/div>\n<\/td>\n<\/tr>\n
Data <\/span>17\/dez\/2004<\/span><\/span><\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n

\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0Nada daquilo fazia o menor sentido. Gente mesquinha. Gente vencida. Gente medrosa. Daquelas que, de pequeno, viveram levando repreens\u00e3o. Ouvindo gritados n\u00e3os. Acusadas de pecadoras inveteradas. Intimadas a pagar pecados com est\u00fardias penit\u00eancias. Infind\u00e1veis rezas di\u00e1rias, cil\u00edcios corporais os mais variados e estapaf\u00fardios.
\nPecar. Pecado. Pecador. Era a norma. Era o mote. Era o inferno depois da morte. Inveja, pecado. Cobi\u00e7a, pecado. Sexo, pecado. Usura, pecado. Desejos, pecado. Comilan\u00e7a, pecado. Furto, pecado. Mentira, pecado. Lux\u00faria, pecado. Amar, pecado. Odiar, pecado. Desobedi\u00eancia, pecado. Pregui\u00e7a, pecado. V\u00edcios, pecado. Dela\u00e7\u00f5es, pecado, Pecado \u00e9 pecar por pensamentos, palavras e obras.
\nDecerto, por isso, resultavam tais deforma\u00e7\u00f5es. Incapazes de um m\u00ednimo altru\u00edsmo. A cabe\u00e7a posta em desgra\u00e7a. Chispantes olhares inquirindo o em torno \u00e0 cata de algo capaz de estragar. Detonar sossegos
\nFrustrados homens feitos. Quase incapazes de se desvencilharem desse atroz destino. Ficam na vida permanentemente importunando vidas. Atores de viol\u00eancias. Atores dos mais inacredit\u00e1veis crimes. Atores de roubos desde os ousados aos escalafob\u00e9ticos. Atores de toda ordem de sadomasoquismo. Atores dos mais diversos abusos, desde os de poder aos sexuais. Atores desconstrutores constru\u00eddos pelos poderes desconstrutores da sociedade.
\nA norma de viver consiste nisso. As ilimita\u00e7\u00f5es s\u00e3o reduzidas ao seu limitado universo circunscrito. Nada al\u00e9m. Nada aqu\u00e9m. Aquele c\u00edrculo e mais ningu\u00e9m. Os muitos nichos. Os muitos m\u00ednimos microorganismos sociais enquistados em outros macromicroorganismos da denunciada sociedade global. Que enganosamente se sustenta manique\u00edsta como forma social justa. O manique\u00edsmo do sim e do n\u00e3o. O manique\u00edsmo do bem e do mal. O manique\u00edsmo do empregado e patr\u00e3o. O manique\u00edsmo do poder e da submiss\u00e3o. O manique\u00edsmo do mando e da obedi\u00eancia. O manique\u00edsmo da riqueza e pobreza.
\nA intermedi\u00e1-los, o caf\u00e9 com leite. O lusco-fusco. A bigamia. As m\u00faltiplas cores. A bissexualidade. A homossexualidade. A clonagem. Os transplantes. A tragicom\u00e9dia. A global expans\u00e3o da psicof\u00edsico miserabilidade humana com seus incont\u00e1veis tent\u00e1culos. E a perversa putresc\u00eancia metal c\u00edclica sem fim encurralando a vida livre, s\u00e3, saud\u00e1vel, feliz.
\nNada de se iludir com a ing\u00eanua reinser\u00e7\u00e3o do \u00e9den na Terra. Nem muito menos denomin\u00e1-la um martirizante inferno. Que, afinal, a pr\u00f3pria organiza\u00e7\u00e3o social instituidora do manique\u00edsmo como princ\u00edpio foi que criou o purgat\u00f3rio.
\nEnt\u00e3o, nada daquilo fazia o menor sentido. Gente resultante da deforma\u00e7\u00e3o dando-se \u00e0 deforma\u00e7\u00e3o. Aquela crian\u00e7ada esfarrapada, perdida pelas ruas e avenidas, pra\u00e7as, viadutos, devassadas, devassantes. Como coiotes uivantes de fome pelas matas. Atacam o que lhes v\u00e3o pelas ruas e cal\u00e7adas. Aquelas sutis e torpes dela\u00e7\u00f5es \u00e0 toa, gratuitas, feitas pelo mero prazer de prolatar o medo, de instigar o estrago, de deflagrar o tr\u00e1gico.
\nAfinal, todo sentido faz e n\u00e3o faz sentido. Todo sem sentido faz algum sentido.<\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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