Data <\/span>11\/mar\/2005<\/span><\/span><\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n
\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0Uma sua dobermann, certa feita, afabil\u00edssima com todos da fam\u00edlia, s\u00fabito, surgiu, boca espumada, cambeteando. Os olhos em brasa. E de imediato p\u00f4s-se a se debater, tremendo, como se sob o efeito de um alucin\u00f3geno. E n\u00e3o era menos \nO experiente veterin\u00e1rio que do habitat da cadela bem sabia diagnosticou e rapidamente p\u00f4s-se a lhe aplicar o ant\u00eddoto, antes que fosse sem tempo. Ela havia, seguramente, mordido um sapo, que, agredido, expelira seu veneno provocando aquela quase trag\u00e9dia. Fatal, se ao veneno n\u00e3o se tivesse dado cabo. \nSob a a\u00e7\u00e3o do medicamento, ela remansara num desfalecimento restaurador, com que certamente, recobrara as energias de uma cadela vigorosa, ind\u00f4mita, agressiva e carinhosa. \nN\u00e3o fora essa a \u00fanica vez. Houvera duas outras. Teimosa, cabe\u00e7a estreita, repetira o deslize. Por isso, vivia-se a rastrear o quintal, como se \u00e0 procura de minas devastadoras: sapos. Todavia, por mais precau\u00e7\u00f5es que se tomasse, sempre encontravam eles uma fresta pela qual transpunham-se da rua para o quintal. Por mais que fossem removidos para lugar certo de que n\u00e3o retornariam, o quintal continha sapos. \nHavia outros c\u00e3es na casa. Que, entretanto, n\u00e3o se indispunham contra eles. Decerto, no princ\u00edpio, feito o reconhecimento, deram-nos por inofensivos, n\u00e3o-inimigos. Logo, que transitassem, passassem \u00e0 larga. O que n\u00e3o admitia o impulsivo temperamento da sua dobermann. \nMas, enfim, n\u00e3o foram os sapos que a mataram. Dos venenos deles fora a tempo devidamente livre. O que n\u00e3o puderam fazer contra o c\u00e2ncer de mama que lhe foi tomando, lhe imprimindo sofrimentos inestanc\u00e1veis at\u00e9 a morte. Quando ele passara quase toda a noite em claro a apascent\u00e1-la. \nOs sapos ficaram. Em v\u00e3o remov\u00ea-los. Mas mat\u00e1-los, nunca. Vinham decerto atra\u00eddos por um quintal benfazejo. Recanto apraz\u00edvel, saud\u00e1vel de insetos. N\u00e3o se podia admitir que acontecesse uma invas\u00e3o. Eram n\u00e3o mais que cinco ou seis deles. O quintal os comportava. Disistira da remo\u00e7\u00e3o in\u00fatil. Apenas a redirecionara. N\u00e3o os deixava permanecerem no avarandado. Eles insistiam. S\u00fabito eram encontrados dentro dos bebedouros do c\u00e3es. Refestelados \u00e0 fresca da \u00e1gua. Levava-os para o quintal. Passados alguns dias, a cena se renovava. Eles foram ficando. Menos insistentes. \nEm certas ocasi\u00f5es, que a natureza deles sabe por qu\u00ea, punham-se a coaxar. Punham-se a cantarolar. Dizem porque chamam chuva. Porque o sapo cururu da beira do rio, sente frio (embora o calor imenso). E quando se prestam a esse destino, s\u00e3o comedidamente pontuais. Tamborilam seu canto feito cigarras fossem, de t\u00e3o persistentes. Tal que acontecera de passar a ouvir esse marimbar canoro ao p\u00e9 de seu escrit\u00f3rio dias e dias. \nIlus\u00e3o auditiva? Decerto o canto de um canto do quintal percutia nalgum ponto do c\u00f4modo ricocheteando ao seu ouvido. Comentara o fato em mais de uma ocasi\u00e3o em que todos passavam juntos. Ningu\u00e9m parecia dar import\u00e2ncia ao que, certamente, consideravam algo banal. Mas vira, num lampejo de disfarce, furtarem-se os olhos do filho mais novo. Mas soubera tamb\u00e9m, naqueles ef\u00eameros segundos de olhares instantaneamente trocados, que o filho percebera ter sido pego em ato obl\u00edquo. \nA const\u00e2ncia f\u00ea-lo descobrir. Tratava-se de um sapo dentro do cano escoador de \u00e1gua da chuva subterr\u00e2neo ao piso de seu escrit\u00f3rio. Decidiu n\u00e3o retir\u00e1-lo. Que ficasse. Aquele canto inconstante, certas manh\u00e3s e tardes, tinha um tom de acalanto. Por certo para al\u00edvio do filho que, embora nada dissesse, parecia ter id\u00eantica opini\u00e3o. \nEis que, numa noite j\u00e1 andada, dera-se com um sapo farto dentro da vasilha de ra\u00e7\u00e3o dos c\u00e3es. Seria poss\u00edvel? Era. Retirou-o. Tomou de alguns gr\u00e3os e atirava-os a ele que, como aos besouros, apanhava-os com sua el\u00e1stica l\u00edngua rel\u00e2mpago. \nEnt\u00e3o aquele sapo ficou sendo o Rex. E toda noite se queria saber se Rex j\u00e1 tinha ou n\u00e3o chegado. E toda noite Rex chegava para aqueles besouros certos e f\u00e1ceis. \n<\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Data 11\/mar\/2005 \u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0Uma sua dobermann, certa feita, afabil\u00edssima com todos da fam\u00edlia, s\u00fabito, surgiu, boca espumada, cambeteando. Os olhos em brasa. E de imediato p\u00f4s-se a se debater, tremendo, como se sob o efeito de um alucin\u00f3geno. E n\u00e3o era menos O experiente veterin\u00e1rio que do habitat da cadela bem sabia diagnosticou e rapidamente p\u00f4s-se […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[17],"tags":[10],"yoast_head":"\n
Rex - POETAGEM<\/title>\n\n\n\n\n\n\n\n\n\n\n\n\n\t\n\t\n\t\n