{"id":564,"date":"1998-11-07T12:19:33","date_gmt":"1998-11-07T12:19:33","guid":{"rendered":"http:\/\/poetagem.com.br\/?p=564"},"modified":"2016-09-24T12:20:29","modified_gmt":"2016-09-24T12:20:29","slug":"manoel-de-barros","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/poetagem.com.br\/1998\/11\/07\/manoel-de-barros\/","title":{"rendered":"Manoel de Barros"},"content":{"rendered":"\n\n\n\n
\n
Manoel de Barros<\/span><\/b><\/div>\n<\/td>\n<\/tr>\n
Data 07\/nov\/1998<\/span><\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n

Publico hoje um pouco da poesia de Manoel de Barros. Poeta que, n\u00e3o obstante publique suas poesias desde 1937 (Poemas concebidos sem pecado – t\u00edtulo do primeiro, somente a partir da publica\u00e7\u00e3o de O guardador de \u00e1guas foi melhor observado e sua grande e original poesia foi descoberta pela cr\u00edtica. O is\u00f3lito, o estranhamento, a reelabora\u00e7\u00e3o sentido das palavras, o fragment\u00e1rio imag\u00e9tico, a metalinguagem incessante, tudo muito impregnado de tel\u00farico pantaneiro-universal (\u00e9 matogrossense fazendeiro, residente em Campo Grande). Foi agraciado com o pr\u00eamio de poesia da \u00faltima Bienal Nestl\u00ea pela sua obra Livro sobre nada, do qual transcrevo, para seu deleite, a 3a. parte que leva o mesmo t\u00edtulo do da obra.<\/span><\/p>\n

*
\n\u00c9 mais f\u00e1cil fazer da tolice um regalo do que da sensatez
\n*
\nTudo que n\u00e3o invento \u00e9 falso.
\n*
\nH\u00e1 muitas maneiras s\u00e9rias de n\u00e3o dizer nada, mas s\u00f3 a poesia \u00e9 verdadeira.
\n*
\nTem mais presen\u00e7a em mim o que me falta.
\n*
\nMelhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contr\u00e1rio.
\n*
\nSou muito preparado de conflitos.
\n*
\nN\u00e3o pode haver aus\u00eancia de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
\n*
\nO meu amanhecer vai ser de noite.
\n*
\nMelhor que nomear \u00e9 aludir. Verso n\u00e3o precisa dar no\u00e7\u00e3o.
\n*
\nO que sustenta a encanta\u00e7\u00e3o de um verso (al\u00e9m do ritmo) \u00e9 o ilogismo.
\n*
\nMeu avesso \u00e9 mais vis\u00edvel do que um poste.
\n*
\nS\u00e1bio \u00e9 o que adivinha.
\n*
\nPara ter mais certezas tenho que me saber de imperfei\u00e7\u00f5es.
\n*
\nA in\u00e9rcia \u00e9 o meu ato principal.
\n*
\nN\u00e3o saio de dentro de mim nem pra pescar.
\n*
\nSabedoria pode ser que seja estar uma \u00e1rvore.
\n*
\nEstilo \u00e9 um modelo anormal de expres\u00e3o: \u00e9 estigma.
\n*
\nPeixe n\u00e3o tem honras nem horizontes.
\n*
\nSempre que desejo contar alguma coisa, n\u00e3o fa\u00e7o nada; mas quando n\u00e3o desejo contar nada, fa\u00e7o poesia.
\n*
\nEu queria ser lido pelas pedras.
\n*
\nAs palavras me escondem sem cuidado.
\n*
\nAonde eu n\u00e3o estou as palavras me acham.
\n*
\nH\u00e1 hist\u00f3rias t\u00e3o verdadeiras que \u00e0s vezes parece que s\u00e3o inventadas.
\n*
\nUma palavra abriu o roup\u00e3o para mim. Ela deseja que eu a seja.
\n*
\nA terapia liter\u00e1ria consiste em djesarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
\n*
\nQuero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
\n*
\nEsta tarefa de cessar \u00e9 que puxa minhas frase para antes de mim.
\n*
\nAteu \u00e9 uma pessoa capaz de provar cientificamente que n\u00e3o \u00e9 nada. S\u00f3 se
\ncompara aos santos. Os santos querem ser os vermes de Deus.
\n*
\nMelhor para chegar a nada \u00e9 descobrir a verdade.
\n*
\nO artista \u00e9 um erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
\n*
\nPor pudor sou impuro.
\n*
\nO branco me corrompe.
\n*
\nN\u00e3o gosto de palavra acostumada.
\n*
\nA minha diferen\u00e7a \u00e9 sempre menos.
\n*
\nPalavra po\u00e9tica tem que chegar ao grau de brinquedo para ser s\u00e9ria.
\n*
\nN\u00e3o preciso do fim para chegar.
\n*
\nDo lugar onde estou j\u00e1 fui embora.<\/span><\/p>\n

FIM<\/span><\/p>\n

(Barros, Manoel. Livro sobre nada.2a. ed.Rio de Janeiro: Record, 1996.)<\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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