{"id":89,"date":"2005-07-28T18:05:41","date_gmt":"2005-07-28T18:05:41","guid":{"rendered":"http:\/\/poetagem.com.br\/?p=89"},"modified":"2016-09-23T18:06:13","modified_gmt":"2016-09-23T18:06:13","slug":"homocaos","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/poetagem.com.br\/2005\/07\/28\/homocaos\/","title":{"rendered":"Homocaos"},"content":{"rendered":"\n\n\n
Data <\/span>28\/jul\/2005<\/span><\/span><\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n

O mundo em reboli\u00e7o. Ou o reboli\u00e7o do mundo aos nossos olhos. Aos nossos ouvidos. Mudou o homem? Ou mudaram-se seus conformes?
\nO mundo do avesso? Ou o avesso desse mundo justaposto ao seu oposto? A extens\u00e3o do homem cada vez mais. O homem a passos grados, de ano em ano, de s\u00e9culo em s\u00e9culo, estendendo os seus tent\u00e1culos. A Terra, seu criadouro, majestosa esfinge pr\u00f3diga e prodigiosa, t\u00famida de mist\u00e9rios e enigmas, a sedutora permanente.
\nIrremedi\u00e1vel possessor; compulsivamente conquistador, o homem. Dilacerado por sua obsess\u00e3o em desvendar-se, em atingir o mist\u00e9rio de sua trajet\u00f3ria imponder\u00e1vel; inconformado com sua individualidade ef\u00eamera, com sua subjetividade lim\u00edtrofe, o homem.
\nE o seu subjetivismo gerou sua diversidade. O olhar de cada homem concebe-lhe a face do mundo; concebe-lhe os enigmas do mundo. S\u00e3o muitos mundos esse mundo \u00fanico. Onde h\u00e1 fundos e sem-fundos; l\u00edmpidos e imundos; deuses e diabos; nadas e para\u00edsos.
\nE o homem assim sendo \u00e9 bem menos intera\u00e7\u00e3o. O confronto o estabelece e o desaparece. O confronto o forma, informa e o deforma. O vi\u00e9s do mundo consubstanciado pelo gozo de seu conforto. A esf\u00edngica resist\u00eancia da Terra instigando suas descobertas; que a tornam cada vez mais menos natureza. O homem com suas ang\u00fastias; com suas ind\u00fastrias. O homem com suas les\u00f5es, com suas devo\u00e7\u00f5es. O homem escavando seu infindo e desconhecido (definitivo). O homem consciente de que talvez para todo o sempre se desfaz, porque o atormenta a in\u00e9rcia da paz. O homem consciente de que vem de fat\u00eddica insaciedade sua inacabada por\u00e7\u00e3o de ferocidade. O homem com cujas d\u00favidas se conduz. O homem em sua peleja impelido por seus sonhos, desejos, medos que intrinsicamente o adejam.
\nA Terra que muita vez d\u00e1 sinal de incr\u00e9dula parece recorrer em v\u00e3o a muitas formas de dizer que tudo isso muito a aterra. Decerto por se supor, sem ser presun\u00e7osa, de si absoluta senhora. Da\u00ed bem saber que a tudo e a todos em seu seio sobeja, ainda, seivas \u00e0 vida. Mas tamb\u00e9m decerto presumiu que teria exist\u00eancias pacatas em formas animalesca e vegetativa.
\nEnt\u00e3o decerto n\u00e3o contava com uma desarmonia, da qual despontasse uma linhagem animalesca estranha. Cujos nervos, m\u00fasculos e sangue vibrassem uma viva energia nervosa que resultasse em atos abstratos, elaborados numa caixa cef\u00e1lica de pensar.
\nE tais, contr\u00e1rios a todos os outros demais, fossem molestar seu o estaus-quo: cosmos que ap\u00f3s o caos se fez. Auto-suficiente, ela todos proveria, sem exce\u00e7\u00e3o, conforme os mecanismos de equil\u00edbrio e harmonia com que se estabelecera. A vida e a morte; o ar, a \u00e1gua, o fogo. Tudo em si encontrar-se-ia. Bastava a eles moverem-se em busca da comida, do abrigo e preservar-se do predador inimigo.
\nEntretanto, aquela estranha linhagem animal decerto a foi surpreendendo. Seus procedimentos em exclusiva aten\u00e7\u00e3o aos seus pr\u00f3prios provimentos foram irreversivelmente sendo de modo a incomod\u00e1-la. Do inc\u00f4modo a transforma\u00e7\u00f5es agressivas. Destas a interven\u00e7\u00f5es transgressivas.
\nAos poucos e progressivamente, o animal homem veio, cada vez mais \u00e1vido, modificando dela o estado-cosmos. Onde antes era tudo terra, \u00e1gua, matas, bichos, p\u00e1ssaros, ele foi derrubando, afugentando, desviando. E foi erguendo cavernas. Pali\u00e7adas. Ocas. Tabas. Castelos. Muralhas. Casas. Pr\u00e9dios. Estradas. Pontes. Carro\u00e7as. Carros. Trens. Autom\u00f3veis. Metr\u00f4s.
\nFoi o homem impondo-lhe ao seu estado natural o dele estado artificial: social, econ\u00f4mico, pol\u00edtico, cultural, tecnol\u00f3gico. Foi o homem estabelecendo na Terra um estado de coisas: um homocosmos. Complexo. Dividido em inumer\u00e1veis compartimenta\u00e7\u00f5es categoriais: pa\u00edses, classes sociais, religiosas. Homens pobres, ricos, mendigos. Terras divididas entre propriedades de alguns. Impr\u00f3prias a muitos. E esses mult\u00edplices divisionismos o foram refinando em ex\u00edmio homic\u00eddio. Logo a pr\u00e1tica do genoc\u00eddio que alcan\u00e7ou a al\u00e7ada do banal. Exterm\u00ednios dos mais comezinhos aos sempre espantosos. Cometidos por grupos, indiv\u00edduos, pa\u00edses com as mais sofisticadas armas.
\nParece que \u00e0 beira do impasse ante a decepcionantes revela\u00e7\u00f5es sobre si mesmo, n\u00e3o obstante o est\u00e1gio de seu homocosmo, o homem se conduz ao caos. E de rold\u00e3o levando todo o resto da terra, precipitando a Terra a seu novo caos.<\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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