{"id":173,"date":"2006-03-15T22:51:40","date_gmt":"2006-03-15T22:51:40","guid":{"rendered":"http:\/\/poetagem.com.br\/?p=173"},"modified":"2016-09-23T22:52:29","modified_gmt":"2016-09-23T22:52:29","slug":"leitura","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/poetagem.com.br\/2006\/03\/15\/leitura\/","title":{"rendered":"Leitura"},"content":{"rendered":"
Leitura \u00e9 fonte. Instaura indimension\u00e1veis venturas. Ensina a viver, apesar das indesej\u00e1veis pisaduras. Encaminha \u00e0s mais impens\u00e1veis alturas. Exp\u00f5e as esp\u00farias criaturas. D\u00e1 fei\u00e7\u00e3o \u00e0s enrustidas imposturas. Semeia largamente incont\u00e1veis culturas.
\nA leitura \u00e9 um trem portentoso a trilhar aclives, declives, curvas incr\u00edveis, paisagens inesgot\u00e1veis. Trem cujo passageiro, aceso em seus cinco sentidos, vai entre repousado e at\u00f4nito.
\nLeitura assegura a imortalidade. Torna o findo um constante inacabado vivo. Leitura \u00e9 uma senda a perdidos. A estrela guia apontando a entrada. Ou a sa\u00edda. Um farol \u00e0 nau perdida. A t\u00e1bua a n\u00e1ufrago. B\u00e1lsamo para uma causa perdida. A chave de um enigma. A iluminura a certas ang\u00fastias. O abalo de sedimentadas estruturas. O barulho \u00e0 serenidade de um sil\u00eancio. Inc\u00f4modos a certeza absoluta.
\nA leitura rompe com a ignor\u00e2ncia. Atormenta as ditaduras. Fomenta a paix\u00e3o pela literatura. Desvenda obscuros. Torna mais percept\u00edvel a formosura. Faz o conhecimento conquistar desenvoltura. Aperfei\u00e7oa a conviv\u00eancia da diversidade. Exp\u00f5e o podre, a lama, a falcatrua. Desencilha de pesados fardos.
\nA leitura exercita a l\u00edngua. Afia a fala. Provoca o l\u00e9xico. Instiga \u00e0 consulta. Habitua \u00e0 pesquisa. Incute a sintaxe. Depura a pros\u00f3dia. Requer sinon\u00edmia. Evidencia o significante. Vela a significa\u00e7\u00e3o.
\nA leitura sabe sobre o mundo dos homens, dos animais; sabe sobre o mundo espacial, sobre o mundo da ci\u00eancia. Sabe sobre os mitos, sobre os m\u00edsticos. Sabe sobre os sabores, os rancores, os destemores, os despudores. Sabe sobre as estripulias, as ousadias. Sabre sobre a imprescind\u00edvel desnecessidade da poesia.
\nA leitura despoja o \u00e2mbito dos elementos tr\u00e1gicos, m\u00e1gicos, dos fant\u00e1sticos universos dos romances, dos contos, das cr\u00f4nicas. A leitura p\u00f5e ordem no caos. P\u00f5e ca\u00f3tico um estado de ordem. Desestabiliza uma ordem de Estado. Devassa a pudic\u00edcia. Hero\u00edza prostitutas. Diviniza certas musas. Deifica certas loucuras. Bruxiza certas criaturas. Cativa legi\u00f5es de ledores compulsivos. Apaixona amadores de livros.
\nEm sil\u00eancio, a leitura \u00e9 ato \u00edntimo. Precisa de s\u00f3 ser. E ser s\u00f3 com quem a prov\u00ea. A leitura habita esp\u00edritos recolhidos, jungidos. Reconforta aflitos. Aflige ing\u00eanuos. Assusta tementes. Importuna poderosos. Desestabiliza os que a desdenham.
\nA leitura \u00e9 ato comunit\u00e1rio. Re\u00fane pessoas. Que l\u00eaem juntos. Que l\u00eaem umas \u00e0s outras. Que com ela se fortalecem contra grandes insultos. Pessoas que tornam a leitura sua uma urdidura.
\nA leitura \u00e9 o sumo da vida. Apazigua clausuras. \u00c9 entretenimento, que a inf\u00e2ncia entretece. Instrumento com que se instrui o jovem. Alento e alimento \u00e0 alma do homem. Desvanecimento da velhice.
\nA leitura \u00e9 cravo e ferradura. Constr\u00f3i, mas tamb\u00e9m discrimina criaturas. Uma contradi\u00e7\u00e3o que d\u00f3i e dura. Instrui e plenifica, quando, mais que d\u00e1diva, \u00e9 direito \u00e0 vida. Sujeita e danifica, quando negada e impedida.
\nAh! Sem nenhuma d\u00favida: leitura \u00e9 a aut\u00eantica vida. Se n\u00e3o passada, se presentemente prec\u00e1ria, \u00e9 pacto inegoci\u00e1vel de vida futura.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Leitura \u00e9 fonte. Instaura indimension\u00e1veis venturas. Ensina a viver, apesar das indesej\u00e1veis pisaduras. Encaminha \u00e0s mais impens\u00e1veis alturas. Exp\u00f5e as esp\u00farias criaturas. D\u00e1 fei\u00e7\u00e3o \u00e0s enrustidas imposturas. Semeia largamente incont\u00e1veis culturas. A leitura \u00e9 um trem portentoso a trilhar aclives, declives, curvas incr\u00edveis, paisagens inesgot\u00e1veis. Trem cujo passageiro, aceso em seus cinco sentidos, vai entre […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[17],"tags":[48],"yoast_head":"\n