{"id":298,"date":"2004-05-21T00:53:56","date_gmt":"2004-05-21T00:53:56","guid":{"rendered":"http:\/\/poetagem.com.br\/?p=298"},"modified":"2016-09-24T00:55:05","modified_gmt":"2016-09-24T00:55:05","slug":"nova-inquietude-do-salteador-de-astros","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/poetagem.com.br\/2004\/05\/21\/nova-inquietude-do-salteador-de-astros\/","title":{"rendered":"Nova inquietude do salteador de astros"},"content":{"rendered":"
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Data 21\/maio\/2004<\/span><\/span><\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n
\u00a0 \u00a0 \u00a0Sabia sim reconhecer algumas compuls\u00f5es suas. Conhe\u00e7a-te a ti mesmo. Por isso, se sabia um homem. Um homem do seu mundo. Um homem forte (elencaria instantaneamente exemplos, se quisessem) com experi\u00eancias de vida irrefut\u00e1veis. Um homem orgulhoso de si: a Deus reverenciava o amor absoluto e irrevogavelmente imparcial; ao pr\u00f3ximo, o respeito \u00e0 dignidade e igualdade, a solidariedade, a compaix\u00e3o amparadora; de si, a exig\u00eancia de hombridade, do p\u00e3o com o suor de seu rosto. Um homem fr\u00e1gil, com seus limites (E tanto assim era, que logo desconversaria para n\u00e3o exp\u00f4-los.) Nos quais centrava sobremaneira seu reaprendizado de ser. \nEnfim, um homem. Vencedor, perdedor; brutamontes, am\u00e1vel; corajoso, medroso; vaidoso, modesto; pregui\u00e7oso, trabalhador; ambicioso, ponderado; ousado, t\u00edmido; impaciente, tolerante; revolucion\u00e1rio, conservador; alegre, triste; \u00e1spero, d\u00f3cil; sonhador, pragm\u00e1tico; teimoso, compreensivo; passadista, contempor\u00e2neo. \nVivente com suas neuroses controladas, seu estresse observado; expiando suas dores e frustra\u00e7\u00f5es; expiando as raz\u00f5es, as desraz\u00f5es, a insensatez tecendo e destecendo o cotidiano mundo terrestre, seu desvanescente, imp\u00fario, inebriante e esp\u00fario habitat, exposto em sua \u00f3rbita a c\u00e9u aberto. \nUma consciente compuls\u00e3o. Que o punha em estado de gratuidade \u2013 o aberto c\u00e9u. \nMesmo o c\u00e9u de sol imperante. O seu azul cambiante, com suas inst\u00e1veis nuvens ao sabor do humor do tempo e do vento. Chuma\u00e7os de paina em impercet\u00edveis movimentos pairando ao dispor de olhos que nelas projetam coisas e seres. Enormes peda\u00e7os de chumbo, de zinco. Incons\u00fatil teia s\u00e9pia amea\u00e7ando inquietantes tempestades. \nMas arrebatava-o o c\u00e9u de noite. O c\u00e9u povoado por seus infind\u00e1veis astros. E gostava de t\u00ea-lo assim uma inc\u00f3gnita realidade amadoristicamente conhecida. N\u00e3o o tomava com olhos cl\u00ednicos. Da Astronomia procurava por vezes uma ou outra informa\u00e7\u00e3o que lhe bastasse para situ\u00e1-lo perante os astros com os quais mais gostava de se relacionar. \nEram poucos. Nada de aplicadas e demoradas incurs\u00f5es no mundo de constela\u00e7\u00f5es e gal\u00e1xias, como um certo conhecido seu devotado astr\u00f4nomo amador. A astronomia como o seu grande e prazeroso entretenimento. Seu diletantismo. \nTem para o c\u00e9u de noite a cotidiana olhada di\u00e1ria. Mais ou menos demorada. Conforme. Todavia, ainda que de relance, passa o olhar globalmente.Busca a lua. E dela encaminha-se na dire\u00e7\u00e3o dos outros seus preferidos. Para em seguida uma vista geral. \nH\u00e1bito. S\u00fabito se pega olhando o c\u00e9u. Ent\u00e3o flagra certos peculiares v\u00f4os. Certos raros p\u00e1ssaros cortando o espa\u00e7o. Uma aeronave: um ponto m\u00ednimo gizando o imenso quadro azul celeste. \nDe noite, as formas e performances da lua em sua peregrina\u00e7\u00e3o. Dela para o brilho florido de V\u00eanus. Da\u00ed para o \u00e1ureo requinte de Marte. Depois se det\u00e9m na recatada sensualidade de sua resplendente Aldebar\u00e3. E quase sempre lhe sobram umas estrelas cadentes em vertiginosa estripulia joaninamente desarranjando o engessado firmamento. Os eclipses. S\u00fabito, sutil objeto estranho. Tudo a olho de ign\u00f3bil amador do espa\u00e7o. \nEm incertas horas, ele deliberadamente atenta contra a ordem celeste e a ordem social. Ent\u00e3o, investido de sua incondicional e inexplic\u00e1vel capacidade de demiurgo, decide com seus preferidos astros bulir. \nAssim foi que em venturosa e complexa opera\u00e7\u00e3o, com eficazes estratagemas, para que as ordens celestial e social n\u00e3o se desestabelizassem, roubou, para presente de anivers\u00e1rio a seu amor, um plenil\u00fanio deslumbrantemente peculiar. Assim tamb\u00e9m procedeu com Marte h\u00e1 pouco, quando este se dera a Terra em sua rar\u00edssima plenifica\u00e7\u00e3o. \nAgora, ultimamente, o c\u00e9u anda a ostentar uma V\u00eanus estupenda.<\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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Nova inquietude do salteador de astros - POETAGEM<\/title>\n\n\n\n\n\n\n\n\n\n\n\n\n\t\n\t\n\t\n