{"id":317,"date":"2004-07-16T01:17:02","date_gmt":"2004-07-16T01:17:02","guid":{"rendered":"http:\/\/poetagem.com.br\/?p=317"},"modified":"2016-09-24T01:17:39","modified_gmt":"2016-09-24T01:17:39","slug":"contar-e-inventar-historias","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/poetagem.com.br\/2004\/07\/16\/contar-e-inventar-historias\/","title":{"rendered":"Contar e inventar hist\u00f3rias"},"content":{"rendered":"
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Contar e inventar hist\u00f3rias<\/span><\/div>\n<\/td>\n<\/tr>\n
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Data <\/span>16\/jul\/2004<\/span><\/span><\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n
\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0A pr\u00e1tica de inventar hist\u00f3rias talvez lhe viera da pr\u00e1tica de ouvir hist\u00f3rias. E o gosto e o prazer de contar hist\u00f3rias por certo \u00e9 conseq\u00fc\u00eancia desta pr\u00e1tica de ouvir hist\u00f3rias. \nNo grupo escolar da sua inf\u00e2ncia, lhe acontecera a pr\u00e1tica de contar e ouvir hist\u00f3rias. Nas duas \u00faltimas s\u00e9ries, a mesma professora fora a delicada e altaneira contadora. \nAos s\u00e1bados. Depois do recreio. \u00c2nimos refreados. Seus alunos postavam-se relaxadamente na carteira (da vez primeira explicara que n\u00e3o se confundisse relaxar com desleixar: dar vaz\u00e3o \u00e0 alma, dar \u00e2nimo \u00e0 solta imagina\u00e7\u00e3o; mas o corpo em postura respeitosa, pr\u00f3pria de pessoas educadas.) \nE entre simp\u00e1tica, am\u00e1vel e solene, arranjava na mesa o livro de que emanariam os inebriantes acontecimentos, recompunha as cortinas para as devidas luminosidade e penumbra. \nEnquanto cadenciadamente ia dispondo o ambiente e os esp\u00edritos, captava as aten\u00e7\u00f5es recaptulando os acontecidos contados at\u00e9 o instante. \nHist\u00f3rias apresentadas de forma folhetinesca. A cada s\u00e1bado um epis\u00f3dio. De certo outro recurso para fomentar a curiosidade da audi\u00eancia. Pronta a sala, os olhos todos desejosos de saber como prosseguiria a hist\u00f3ria. \nEnt\u00e3o, em p\u00e9, vozes representadas e distinguidas, devidamente entoadas e entonadas, express\u00e3o facial e gestualidades do corpo com os bra\u00e7os e m\u00e3os simulando situa\u00e7\u00f5es. E a todos embarcava no universo sagrado e m\u00e1gico da imagina\u00e7\u00e3o. \nSua cristandade impunha-lhe a propens\u00e3o a tomar para sua hist\u00f3ria a hist\u00f3ria da b\u00edblia. E suas crian\u00e7as, entre temerosas e aventureiras, metiam-se pelo vale do mar aberto pelo m\u00e1gico bord\u00e3o de Mois\u00e9s, pelas fa\u00e7anhas de Jos\u00e9 no Egito. \nNas f\u00e9rias escolares, as hist\u00f3rias sabatinas povoadas de gente com aur\u00e9olas, mantos barbas e cabelos longos ficavam suspensas. A circunspecta e altiva senhora ia descansar. \nEra ent\u00e3o que para algumas daquelas crian\u00e7as entrava em cena outra contadora de hist\u00f3ria. E outras eram suas hist\u00f3rias, outras as personagens, outro o lugar e a hora. \nIam, em f\u00e9rias, para uma fazenda. A contadora dessas hist\u00f3rias era a av\u00f3 cujo marido, o av\u00f4, a fazenda administrava. \nA av\u00f3 era magra e r\u00fastica. D\u00f3cil e brava. Risonha e carrancuda. \u00c0 noite ia ao alpendre suspenso e aberto ao c\u00e9u de estrelas e luar. Sentava-se em sua cadeira pregui\u00e7osa. Eles, pelo ch\u00e3o, sentados, deitados. \nE come\u00e7ava um ros\u00e1rio de hist\u00f3rias povoadas de lobsomens, rios, matas, cafezais, on\u00e7as, macacos, sapos, cobras, c\u00e3es, bois, cavalos, ro\u00e7as, homens r\u00fasticos, simples, malvestidos, malcal\u00e7ados. \nUm mundo n\u00e3o menos m\u00e1gico que o outro, por\u00e9m inteiramente m\u00edtico. Mundo em que a inven\u00e7\u00e3o n\u00e3o ia al\u00e9m de si mesma. Mundo em que a ambi\u00eancia, o espa\u00e7o e as personagens, ainda que dotados dos m\u00e1gicos poderes que a inven\u00e7\u00e3o lhes emprestava, eram dos receptores reconhecidos, tang\u00edveis.<\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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Contar e inventar hist\u00f3rias - POETAGEM<\/title>\n\n\n\n\n\n\n\n\n\n\n\n\n\t\n\t\n\t\n