{"id":93,"date":"2005-09-21T18:07:35","date_gmt":"2005-09-21T18:07:35","guid":{"rendered":"http:\/\/poetagem.com.br\/?p=93"},"modified":"2016-09-23T18:08:13","modified_gmt":"2016-09-23T18:08:13","slug":"presente","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/poetagem.com.br\/2005\/09\/21\/presente\/","title":{"rendered":"Presente"},"content":{"rendered":"<table border=\"0\" width=\"300\" cellspacing=\"0\" cellpadding=\"0\">\n<tbody>\n<tr>\n<td><span style=\"color: #000000; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;\">Data <\/span><span style=\"font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;\"><span style=\"color: #000000;\">21\/set\/2005<\/span><\/span><\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n<p>A cl\u00e1ssica rotina: campainha. O cara do correio. Sedex. Comprovante assinado. Os agradecidos cumprimentos. A bicicleta sai r\u00e1pida em busca dos outros destinat\u00e1rios. Entra. Toda envolvida na encomenda. Distra\u00edda, subindo degraus. Trancando a porta, cerrando as cortinas.Curiosos olhos na gulosa busca de sentido para aquilo. N\u00e3o atinava com as identifica\u00e7\u00f5es do remetente.<br \/>\nE a distra\u00e7\u00e3o f\u00ea-la sentar-se na primeira poltrona mais \u00e0 m\u00e3o. As m\u00e3os, desde o port\u00e3o, vinham j\u00e1, com o rasteio de h\u00e1beis dedos femininos, campeando o objeto, na r\u00e1pida tentativa de obter-lhe a identidade. N\u00e3o se tratava de livro. N\u00e3o costumava receb\u00ea-los, sen\u00e3o comprando-os. Depois, o formato e a espessura tamb\u00e9m dissipavam essa solu\u00e7\u00e3o.<br \/>\nExtra\u00eddo o inv\u00f3lucro de servi\u00e7o dos Correios, a primeira leve como\u00e7\u00e3o. Vinha o objeto embrulhado com papel para presente. Ansiosa, ficou ainda um pouco mais fruindo aquela surpresa que se desfaria, t\u00e3o logo executasse o desembrulho. Fino papel de seda. Delicadeza a toda prova. Primeiro ind\u00edcio de bem querer enunciado. Outro eram os desenhos em abstratos coloridos, lindos, que todo o papel compunham.<br \/>\nEnt\u00e3o, papel esmeradamente aberto, sem que lhe imprimisse qualquer contus\u00e3o, a surpresa ficou toda nua ante seus sentidos todos encetados nela. Acompanhava-a um pequeno envelope fechado. Onde, por certo, haveria mais outra emo\u00e7\u00e3o esperando-a. Conteve-se. Protelou-a para depois de ter-se dedicado satisfeitamente ao objeto principal. Aquele, pela pr\u00f3pria natureza, indiciava alguns dizeres, decerto de felicita\u00e7\u00f5es.<br \/>\nHavia recebido um quadro. De tamanho mediano. Quase quadrangular. Moldura dourada com relevos, sugerindo trepadeiras floridas percorrendo a cerca-moldura. No centro, a ampla foto de uma flor.<br \/>\nUma rosa. Uma rosa sem tamanho. Toda vestida de um lil\u00e1s resplendente. Fixa numa firme verde haste cujos espinhos, n\u00edtidos, com sua ponta enegrecida e rubro \u00fabere, decerto punham-se em guarda daquela formosura exposta a indefin\u00edveis olhares cobi\u00e7osos.<br \/>\nEmbora pendida, era uma rosa toda acabada em seu ciclo de fazimento. Resplandecia-se em seu inteiro vigor de flor completamente feita. Acendiam-se suas grandes p\u00e9talas vivazes com a incid\u00eancia da luz solar tomando-as todas.<br \/>\nEntre embevecida e ansiosa por ouvir a carta acompanhante, deixou-se um pouco levar por emaranhados meandros da lembran\u00e7a, com que insistia para suscitar-lhe algo vivenciado, em que rosa semelhante fora personagem destacada. Todavia os epis\u00f3dios onde houvera flores n\u00e3o lhe restauravam uma rosa assim maravilhosa, embora insinuassem. Algo dizia que sim, que houvera, houvera.<br \/>\nClaro, a carta desfaria o enigma. E sofregamente contida abriu-a:<br \/>\nPara felicitar-te nestes teus anos, a beleza da rosa de teus encantos. Decerto n\u00e3o te lembravas mais dela. Talvez tamb\u00e9m nem de quem te oferta-a. No entanto, ambos, o oferente e a flor soubemos bem assistir ao teu acentuado deslumbramento silencioso ante a magnitude daquela (essa) rosa.<br \/>\nDia depois, este oferente foi insistentemente tentar obt\u00ea-la da propriet\u00e1ria. Que am\u00e1vel e resolutamente resistiu. Mas concedeu, no dia seguinte, que ele pudesse fotograf\u00e1-la. Eis a\u00ed aquela rosa, agora, a\u00ed perenizada, tal como te encantou. \u00c9 tua. A que viste n\u00e3o existe mais. Tampouco contigo existiria, se a tivesse ganhado como uma rosa.<br \/>\nSeja feliz, como decerto o foi essa tua rosa, enquanto viva fora.<\/p>\n<p>&nbsp;<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"<p>Data 21\/set\/2005 A cl\u00e1ssica rotina: campainha. O cara do correio. Sedex. Comprovante assinado. Os agradecidos cumprimentos. A bicicleta sai r\u00e1pida em busca dos outros destinat\u00e1rios. Entra. Toda envolvida na encomenda. 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