Educutopia

Data 04/jul/2005

As teorias educacionais. Versáteis. Mutáveis.Vivas. A sua aplicabilidade embasada em seus princípios ideológicos. Nunca ele rechaçara peremptoriamente alguma. Tampouco tomara uma como a única. Com todas ensinara e aprendera. Aprende-se, ensinando. Ensina-se, aprendendo. A prática pedagógica exige tomada de decisão, posicionamento, medidas, procedimentos. Para os quais os múltiplos pressupostos teóricos saem em socorro. Sobremaneira, agora, quando a verdade em voga advoga que os educandos são cada um, aos quais se devem as suas devidas medidas.
Lia. Em reuniões, encontros, discutia, com certa veemência muita vez, postulados, fazia as suas postulações, ouvia outras. A educação era o seu cotidiano. Com a educação construíra sua vida. A de seus filhos. Também, cria, por meio dela, ajudou multidão de meninos e meninas, moços e moças a pensar o mundo, a construir estudos, caminhos que conduziam a leituras.
Por mais que não se queira; por mais que a isso se faça pouco; por menos que nisso se acredite; a escola, antiqüíssimo lugar de ações que se pretendem sobre o ensino-aprendizagem, continua um laboratório de vivências. Sua história inscreve-se de superestimações, de conservadorismos, de mesmices, de transformações, de vilipêndios, de morte anunciada, de elitismo, de superficialidades, de autoritarismos, de liberalismos, de grandezas, de pequenezes, de súbitas surpresas.
Raul Pompéia, em seu Ateneu, uma obra literária primorosa, que escolas de hoje não suportam estudar, representa alguns desses aspectos. E o faz sob um verismo irrefutável, hoje ainda mais: a escola é um microcosmo. Nela, a vida, sócio-econômico-cultural está representada. É certo que o ateneu que o Ateneu de Pompéia figurou era o de uma das poucas escolas e aristarcocráticas da época. Cujos resquícios sobreviveram às expensas dos contemporâneos requintes e continuam a serviço de privilégios para privilegiar.
O ateneu em que ele vivera construindo a sua vida e vidas (não obstante a presunção que talvez daí se infira) fora o de escola pública oficial. Escola cujos primórdios, como sobejamente registra a história, também era de poucos. Muitos poucos.
A expressão estereotipada e ainda corrente é a de que nela estudavam os filhos dos que podiam. Os filhos dos que não podiam freqüentavam toda ordem de trabalho. Estudo era coisa de rico. Certo: com a abertura do período noturno, começavam as escolas a enveredarem-se pela via da democratização. Assim sendo até abeirar-se à condição de escola popular como a de hoje. E sua popularização atingiu tanto o banco (a carteira) quanto a cátedra (o magistério).
Sua formação se fizera no seio dessa escola que viera se popularizando. Estudante de curso noturno desde o denominado ginásio. Curso universitário noturno. Ingresso no magistério público oficial. Vivera, pois, essa evolução. Ora inconscientemente. Ora com mais clareza e consciência do processo. Era, então, um espécime da escola popularizada, na qual fora carteira e depois se tornara cátedra.
E nesse percurso muita teoria pedagógica passou sob o céu (e o inferno) e no seio desses logradouros de ensino estatal. Passara tanto pela carteira quanto pela cátedra ouvindo, vendo, discutindo, dizendo e de certo modo, até a um certo ponto, combatendo um outro verismo irrefutável: a escola da elite e a escola dos pobres. Estigma que a democracia haveria de corrigir. Aspirava-se à escola única. Onde coubessem ricos e pobres. E que esses metais fossem amalgamados por uma educação que disso fizesse resultar uma mais fina e sã realidade. Em vão. Parece que não dão liga. A estampa mais rica logo se confina. Restou uma escola pública única, majoritariamente, aos pobres. Então a nova utopia: uma escola aos pobres (que verdadeiramente não a possuíam), mas que não se permitisse ser uma escola pobre.
Para isso podem pouco as mais variadas teorias educacionais e pedagógicas. E muito pouco ainda é, se a elas se agregar puramente uma vontade política desacompanhada de vontade econômico-financeira sólida e determinada.
Enquanto não: sem escola pública única, onde conviveriam ricos e pobres; mas escola de pobres em tudo ainda muito empobrecida.

Quinto: não matar

Data 21/jun/2005

Aprendera, sobretudo com a vida, que o ângulo pelo qual se olha é que configura uma realidade. Logo, não há a realidade única. A realidade não é a mesma.
Viu, tem visto e decerto verá, enquanto seus olhos não estiverem mortos, que o belo é também feio; que o trágico contém lirismos; que o cômico contém tragicidades; que a morte também não é o fim da vida; que o triste contém beleza; que o sagrado também é o banal; que o profano é o cotidiano; que Deus é também o problema; que o bandido também é mocinho; que a mentira contém suas verdades; que o destino, construído desde menino, sempre se depara com certos desatinos; que muita velhice vive crivada de meninice.
Então, quanta coisa que, dada por inválida, tem, súbito, alguma validade. As insignificâncias inobservadas de repente surpreendendo. Haja vista a vida. A natureza instituiu-a. Fê-la ser. O instituto da vida vigorando em sua miríade de seres. Os sabidos e conhecidos. Os dessabidos infindos. Súbito se insurgem, muita vez causando espanto. O que não se conceberia poder haver.
Seres vivos. Inconcebíveis. Todos com seu destino, defendendo a vida, com modo e hábito de agir com o instinto que a natureza os dotou. Todos à caça dura do que lhes garantir a sobrevivência. Decerto não sabem por que, pra quê. Sobreviver é preciso. Que a vida lateja na sua exigência de permanecer criando necessidades físicas, necessidades de proteção, que a lei da sobrevivência não prescinde de que os seres sejam predadores entre si. As ervas, vidas, são pastos dos herbívoros. As carnes, vidas, são pastos dos carnívoros. Assim se consuma a sina de que é preciso morrer para que haja a vida. Então, a vida, que se quer eterna, é um extermínio de si mesma.
Matar é um ato próprio do que é vivo. O vivo vive de matar. Os microorganismos invisíveis, feitos bactérias, feitos vírus sempre perseguidos, pois vivem se constituindo em sérios perigos a seus hospedeiros. Os insetos – os pernilongos, os mosquitos, as pulgas – são incontinentemente repelidos, mortos, pois que tidos como perigo à vista. Mas também a aranha, a barata.
E era justamente uma barata que tinha ele, naquele instante, diante de si. Ela também, por certo, percebera que ele a percebera e a tinha com aguda acuidade toda em suas retinas.
Tratava-se, certamente de um homem. Fosse uma mulher teria gritado histericamente e batido em retirada propalando que havia lá uma barata. Homens, não. Geralmente precipitam-se sobre elas para pisoteá-las. Esmagá-las. Estava, pois, em altíssimo risco de vida. Ambos estáticos. Pressentia que o golpe dele estava na iminência de ser disparado. Não compreendia por que ele demorava tanto daquele jeito. Mas alentava-se por isso. Ia ganhando tempo, para sentir a direção pela qual conseguiria escapar com maiores chances de que ele pudesse não alcançá-la. Ele continuava paralisado. O que a afligia muito. Deveria ter-se preparado já suficientemente para apanhá-la por qualquer lado que fugisse. Errara em lhe permitir tanto tempo assim. Homens são mais astutos que baratas. Em pânico, decidiu-se por fugir pela porta quintal afora. Sua estratégia era rapidamente ganhar o gramado pelo qual se imiscuiria, fazendo-o perdê-la de vista.
Melhor assim. Nada de correr atrás dela. Que vivesse ainda mais um pouco. Quem sabe indo de seu quintal à rua. Até que uma galinha ou pássaro famintos a encontrassem.
Sentia-se aliviado. Pois, se tivesse fugido para algum outro local de dentro de casa, estaria obrigado a caçá-la e exterminá-la.

Visões

Data 03/jun/2005

Século XXI. Ele vendo e vivendo sua fatia de vida moderna-pós-moderna instaurando o inusitado, o inaudito. Muita vez, ao mesmo tempo, não apenas decompondo o passado, mas também o sobrepondo. De tal sorte certos diálogos se estabelecem. Dos quais se insurgem os contrastes que a história em suas páginas feitas de tempo e espaço inscreve.
Uma fazenda. Não qualquer fazenda dessas de gado, pasto, lavouras (muito escassas já) e gente (escassa ainda mais). Tais quais as que são signos escritos nas páginas desta modernidade e pós. Fazendeiros quase todos feitos à Paulo Honório. Que se não tão obsessivamente reificadores de tudo e de todos, são determinados na consecução de avantajados lucros na expansão da condição de proprietários.
A rigor uma ex-fazenda. Uma fazenda fantasma, talvez. Pois que ali sua estrutura arquitetônica, claro: in made Europa, fora sendo preservada. Nada se modificara. E não tombada. O dono, sim, é que se mudara. A ela passou a construir um outro destino que não o de outrora. De outrora ali estão todos os prédios. Estão neles grande parte dos objetos. Os móveis puros mognos. Ali não estão mais os diretos responsáveis por sua montagem; os diretos responsáveis por seus grandes lucros e ganhos; os diretos responsáveis pelos grandes danos desconsiderados. Ali não estão mais os homens-força de trabalho – afroescravos e europeus migrados, envolvidos, ainda que talvez não misturados, na construção, manutenção e excedentes daquele proeminente patrimônio. Agora, estão todos misturados, sim, igualados em terra que os desigualavam, senhores e súditos. Que, o que a sociedade separa, a natureza amalgama.
Ficou uma fazenda museu. Digna das visitas excursionistas turísticas. Para esse fim, mantida pelo seu proprietário século XXI. Há, como todo patrimônio turístico que se valorize, um roteiro de percurso que se faz com a condução de um guia. Um desses, o próprio proprietário que com isso visivelmente se realiza. E os que ali vão o reverenciam, por essa contribuição à história social de nossa civilização, cujo custo grosso depende de seu bolso. Pois a fazenda não é, obviamente, exceto em arquitetura, mais aquela fazenda. Tampouco é fazenda destes séculos XX/XXI. É improdutiva e fantasmagórica.
Percorrendo-a a fundo, deixando-se levar pelas páginas da história prolatada por seu proprietário-guia, vai-se infiltrando naquele tempo século dezenove/vinte em que o café paulista era o precioso ouro sustentador de toda a corte brasílica. Fora uma fazenda-civil, que sua tecnologia, para um país semi-agrário, era muitos anos-luz de seus dias.
Sua estrutura espacial, modelarmente, é feudal. Seu funcionamento era de independência. Autobastava-se. Auto-abastecia-se. Quase nada se buscava fora. Coisa pouca: sal, alguns finos tecidos e calçados, bebidas da Europa.
No centro, os terreirões de café. Ali a produção exposta à secagem. Toneladas. Que, no ponto, iam à grande tulha, onde outros súditos dedicavam-se à descascação e embalagem. Enquadrando o terreirões, a casa-grande cetralizada e altiva, com seu alpendre; o terraço, sob o qual tudo ficava exposto à vista do dono. De fronte, mais longe, a igreja, também assentada na sua altivez. Os dois máximos poderes contíguos na zelação de seus contritos.
Fecha o círculo de uma a outra, de um lado, os locais de trabalho: oficina, serraria, serralheria, tulha, a casa das máquinas (a fazenda funcionava a energia a vapor). De outro, o escritório de administração, o grande armazém de mantimentos, a casa de diversão – uma espécie de cineatro, uma estrebaria em cujo fundo ficava o curral. Perpendicularmente ao primeiro semicírculo, vão enfileiradas as casas geminadas que abrigavam os empregados agregados à fazenda, às ordens do senhor, para cujas riquezas despendiam seu suor, emudeciam seus sonhos, desvaneciam seu futuro.
Ao visitante do presente do futuro que àqueles não pertenceu, ir e vir pelos assoalhos solitários do casarão, por seus porões de oca escuridão, por seus terreirões de café vazios, pela igreja com seus vestígios de catolicismo de requinte, a esse visitante o orgulho entusiástico do atual proprietário não deixava de ser um contributo à preservação da memória histórica. Ainda que se tratasse de uma história (afinal, a ela não cabe essa subjetividade) nada honrosa tanto a ele, proprietário daquele legado, quanto àqueles visitantes, herdeiros de uma cultura povoada de senhores, assenhoreados, riqueza e privações. Que, em verdade, tem tão-somente mudado em século.

Mãe

Data 06/mai/2005

A mãe de satã
que devia ser alguma leviatã.
A mãe de David
que não imaginaria
ter um filho assim.
A mãe de Golias
que decerto sabia
daquela sua mania.
A mãe de Jesus
que por certo
pressentia a cruz
mas que também decerto
não imaginaria
ser tamanha a via crucis.
A mães de João Batista
que morreria de desgosto
se viesse a saber
de um filho tão canhoto
capaz de viver de brisa
e gafanhoto.
A mãe Menininha do Gantoá
que Caymmi tornou imortal.
A mãe dona Canô
que nos deu Bethânia
e Caetano Veloso.
A mãe de Pedro e de Paulo
que reiluminaram este espetáculo.
A mãe de Zumbi
cujo grito de guerra
acordou-nos o sangue
tupi-guarani.
As mães violentadas
por seus maridos
ou por toda ordem de desordem.
As mães nos manicômios
cujas velhices degeneradas
são incômodos.
As mães que por vários motivos
choram por seus filhos.
As mães por cujos filhos
bandidos foram desdenhadas.
As mães tão-somente
Cama, mesa e roupa
bem limpa e passada.
As mães muitas
Cujos filhos se criam nas ruas
E que as vêm como prostitutas.
A santa mãe imaculada
de cada um de nós.
A Mãe-Terra de todos
que nos dá, nos reacolhe
e nos devolve,
prediletos rebentos
que eternamente a realimentam.

Cabeça de porco

Data 02/mai/2005

     No Roda Viva da Cultura. O cantor e compositor de hip hop sentado na cadeira em que circulam normalmente celebridades. Tanto do bem quanto do mal, ou nem tanto um e outro. O cara é da comunidade da Cidade de Deus. Tripla glória: além destas duas, publicara de parceria com outro um livro, resultado de longa pesquisa-entrevista com moradores dos guetos das grandes cidades (capitais) do País. Coisas sobre a vida marvada: violência, drogas, crimes, misérias, preconceitos, desempregos crônicos, desejos, anseios impossíveis instigados pelos meios propagadores das relíquias do mercado.
Cabeça de Porco, o título da obra. Os inquisidores no programa e telespectadores iam do conteúdo do livro à história do hip hop. Os primeiros transpareciam ter lido o livro, embora o mesmo não tivesse ainda oficialmente dado a público.
O compositor – por isso classificado ao final do programa pelo apresentador de “cara de pavio curto e pouca conversa” –, em atitude solícita, entre rispidez contida e respostas abruptas e diretas, parecia tenso, nada à vontade.
Todavia, quase tudo de todos era discretos e moderados elogios ao hip hop e ao Cabeça de Porco. O artista em voz abafada e cara amarrada sussurrava seus obrigados.
Descansado na poltrona, da qual acompanhava com atenção em sua tevê, ia entre acusando mentalmente o conjunto de pronunciamentos e perguntas de chocho e vazio e admitindo que o compositor era desenvolto, fluente linguagem, raciocínio lógico e rápido. E o teor de suas réplicas continha interessantes, significados, o que acabava dando qualidade de conteúdo aos banais assuntos decorrentes dos inquisidores.
Pensou também, longe mesmo de querer subestimar quem quer que fosse, que o hip hop, com o qual não gastava nenhuma parte de seu tempo dedicado à fruição estética, passara a ganhar muito mais bons olhares da média classe brasileira, depois que Chico Buarque deu de andar dizendo que o mesmo exerce um papel semelhante, e com mais contundência, pois que livre das mirabolantes e obscuríssimas metáforas, ao que ele, Chico, praticava com suas canções políticas no tempo da negra ditadura.
Cabeça de Porco parecia um trabalho sério e digno de ser lido. Mas o título da obra trouxera-lhe à tona um outro cabeça de porco. Muito provavelmente tão destroçado quanto àquele. Era uma periferia no último. E tida e havida como o antro da marginália. Expressão aristocrático-policialesca difundida e circulante. Para lá fora tangido por força da profissão, conquista difícil e disputadíssima em concurso público. A unidade básica de saúde do lugar recebera um médico que ali deveria dedicar-se oito horas por dia na labuta com as enfermidades que o procurariam.
E quantas! Muitas cujas causas eram de nutrição, de saneamento básico, de higienização. Bem depois das oito horas estabelecidas, ia para casa moído e desiludido quanto às suas receitas que abrandavam as conseqüências, mas incapazes de erradicar aquelas causas cujas doenças mantinham crônicas.
E logo se deparara com outras doenças tão graves como as manifestas fisicamente. Tratava-se de moléstias da alma. Terríveis moléstias mentais que quase o sufocavam, porque não pôde furtar-se em ouvi-las. Daí esperava o paciente umas palavras orientadoras do “dotor”.
Ele as foi dizendo, tais as ansiosas necessidades. E com medo de que estivesse receitando duvidosos remédios para aqueles muitos e comuns males de alma reinantes ali naquele cabeça de porco.
Não obstante a sua grande paixão pela medicina, era um médico jovem. Entretanto, fora aprendendo, aprendendo com aquele grande arsenal de miserabilidade humana. Miséria social que propiciava o alastramento da miséria mental. O que resultava em promiscuidades, em estados de violências: espancamentos; estupros; verdadeiros infanticídios: pedofilia; abusos sexuais de toda ordem; prostituição.
Um cabeça de porco que parecia fadado àquele destino. A politicalha mandava, perseguia quem se lhe interpusesse. Ele cedeu. Foi embora de transferência para o posto central. Abriu consultório, passou a escamotear seu trabalho no Estado. Entregou-se à vida que os verdadeiros donos dos cabeças- de- porco queriam.

Felicidade

Data 25/Abr/2005

     Um substantivo abstrato, ensinara-lhe a escola. Designa ser de existência dependente. Acomodou-se. Empregou-o Mais tarde, increpou. Muitos seres dependentes eram absolutamente concretos. Concretos e não independentes. Não como o com que se conformara a Gramática.
Seres de carne, sangue, osso, juízo e, pelo visto e sabido, não-portadores de felicidade. É certo que a quase todos a felicidade está com o outro. Felicidade é o que o outro é. Felicidade é ser como o outro. E o outro que não se sabe dela portador considera que a felicidade está noutro.
Afora, todavia, essa mobilidade comparativa que parece confirmar seu abstracionismo, a felicidade talvez devesse ser um bem suscetível de aquisição indistinta de raças, cores, classe sociais quaisquer. Ainda que para atingi-la, como um prêmio ou uma dádiva, fosse imprescindível muita labuta físico-mental.
Seria que para a felicidade não tem idade. Para a felicidade, não careceria idoneidade. Para a felicidade, não haveria a obrigação de se apresentar a identidade. Para a felicidade, não se solicitaria a ancestralidade. Para a felicidade, não se exigiria a nacionalidade. Para a felicidade bastaria a supressão da arrogância. Para a felicidade, seria necessário ser portador de comprovada solidariedade. Para a felicidade, conviria o exercício da tolerância. Para a felicidade, seria imprópria a abastança, a abundância, a extravagância. Para a felicidade o passaporte-mor seria uma insuspeitada caridade.
Seria crime inafiançável incutir que a felicidade é dom da pobreza; que a felicidade não reside na riqueza; que a felicidade pode ser manipulada pelos baús da esperteza; que a felicidade seja o pretexto para espúrios negócios.
Lupicínio cantou uma canção, que não parou mais de ser entoada por outros e pelo povo de seu país, em que lamenta ter a felicidade ido embora. Sua presença concreta se dava, ao que parece, com a permanência da amada. Ocupou sua ausência a saudade. Com a qual rima, mas jamais é solução.
Não obstante a felicidade nunca tenha uma única face, tampouco um único fim, ela é a definitiva finalidade. Assim na terra como no céu.
Então é a felicidade um anseio permanente. O homem age com os olhos nela. Essa coisa multefacetária e infinda. Essa preciosidade pretendida por quem na face da terra viva e sobreviva.
E não há felicidade desacompanhada. Ela povoa o sonho como nada o habita tanto. Sonhar é almejar a felicidade: o Paraíso perdido – para os crentes, felicidade extrema; o céu crido e desconhecido – para aqueles mesmos, a felicidade máxima.
A felicidade é ponto de parada. Ali se ancora para uma estada. Mas aí ancorado se quer ou já se traz outra jornada. O lugar nenhum é seu ponto de derradeira chegada. Pois que a morte, sendo verdadeiramente este, é sempre uma indesejada, conquanto seja de fato o fim da estrada, que, como a grande infelicidade, o quanto se pode, se rechaça.
Na lida, o trabalho respeitoso e dignamente remunerado, que dá orgulho, honradez e acolhimento. No cotidiano, do mercado de consumo de massa, não receber as migalhas, que, concedidas, ainda mais humilham. Na mesa, o sustento a contento. Na labuta, o retorno, recompensa ao que se dedica, seja a justa e digna morada. Pão fresco a si e aos filhos. A bebida certa, aos menos na medida, para a sede provocada pela profícua empreitada. Não à esmola que incomoda, amola, e tanto humilha quanto vicia. O direito de ir e vir; de ser ou não; de ter ou não; de ser e não ser; de ter e não ter. Eis alguns traços que a felicidade propala.
A felicidade sempre está em falta. Quer seja o grande amor, que por alguma desrazão não se tem. Quer seja o bom vinho que o precário salário não permite à mesa pôr. Quer seja a almejada viagem que as economias ainda não são capazes de sustentar. Quer sejam os filhos ou netos que ainda não vieram por uma questão de planejamento familiar. Quer seja a doença, leve ou grave, que ainda não se curou, mas que há de se curar. Quer sejam as dores e angústias de certas desavenças que se demoram a dissipar.
Afinal, a felicidade, impelida pelo sonho e pela esperança, é o horizonte pretendido e por isso buscado. E que, quase sempre, é descontruído pelo fazimento por tê-lo, que acaba outro construindo.

Jumento

Data 15/Abr/2005

     Impossível não ouvir o seu relincho. Um relógio na emissão de seus zurros. Ali, em plena cidade, diuturnamente, nos mesmos períodos de tempo, um jumento zurra para estranheza, surpresa, saudosismo de alguns citadinos, como ele, daqueles próximos bairros ao ponto (que desconhecia completamente) em que aquele jegue residia.
O jumento que não é cavalo, mas que dele muito tem e dele muito se afasta. O relincho de cavalo qualquer é naturalmente belo. Seja qual relincho for – por amor, por rancor, por temor, por destemor.
Um cavalo ou égua baia, alazã, soberbos no meio do pasto. Pescoço altivo, donde soltas crinas crespas evolam-se ao vento. Rabo arqueado no qual também crinas iguais balouçam. E seus soberbos relinchos. A campear a cria perdida. A implorar a fêmea preferida. A enxotar inimigos do seus espaço. A impacientar-se ante anúncios de fortes temporais.
Cavalo ou égua equipados a rigor. Pêlo em brilho de alimentação apropriada e escovação periódica. Traia das mais agradavelmente adequadas. Freio leve em aço. Tal a montaria bonita em seu elegante compasso de marcha. Marcha a que nenhuma se compara.
Sim, o jumento. Que poucas vezes vira. Por certo porque em seu mundo valia o cavalo. Era ali, fora aos poucos percebendo, de nenhuma serventia aquele burrinho pardacento; imprópria montaria para as lides daquelas paragens. Por que um que outro criador possuía também um jumento? Soubera que por ali existia com a privilegiada (decerto ele mesmo não se dava conta disso) condição de ser reprodutor.
Um burro, uma mula, de pai ou mãe jumentos destes não herdam o porte. Justamente o que a seus proprietários apraz. Mas decerto trazem dele um fôlego e força tamanhos que noutros eqüídeos não são. E de sua mães égua, ou de seu pai cavalo trazem também o porte.
O espectro de uma égua alazã, tordilha, negra, mansa, a passear, enquanto pasta; enquanto espia o vago, o horizonte. Crinas soltas. Ancas magníficas esplendentes numa aurora; esfusiantes num pôr-de-sol; ardorosas numa noite estelar de lua plena. Uma égua de cujo parto pode um burro, uma mula.
Não traz o burro do cavalo a garbosa elegância esfíngica. Não traz a marcha eclética e marcial de patas, pernas e coxas desenhando em contínuo, no espaço, imagens de engrenagens cuja mobilidade seduz, atrai, prende. Não traz o burro no seu galope as convexas-côncavas curvaturas magistrais que se vão sucedendo no ar de vivo pasto, transfigurando-se num espectro multicor. Tampouco uma mula traz de uma égua estas semelhantes proezas.
Não. Um burro, uma mula são turrões. Vão devagar, são de vagar. São duros de andar. São de andar duro. Trotam. Rude postura de cabeça baixa, de silhuetas retilíneas. Cores opacas e esmaecidas.
Todavia, o porte mediano, as canelas finas, a paciente cavalgadura, atestam homens que com gado, cavalo, égua, burro, mula tanto conviveram e convivem, são caracteres de animais incomparáveis em resistência e sabedoria. Um burro sabe a hora da travessia. Uma mula sabe ser das mais finas e seguras montarias. O magistral conto “O burrinho pedrês” de João Guimarães Rosa; a antológica canção caipira “Moda da mula preta” de Torres e Florêncio são dois comprovantes irrefutáveis.
Vêm do jumento decerto esses caracteres manifestos pelos filhos, que se prestaram a servir com presteza e vantagens, em alguns casos, mais e melhor do que quaisquer outras montarias.
Do Evangelho se depreende que o jumento por duas vezes teve a honrosa façanha de servir a Jesus Cristo. Uma levando, no lombo, Maria com ele a fugirem dos herodes. Outra, também em seu lombo, levando Jesus que em Jerusalém entrava.
No Nordeste é que, mais que noutro lugar qualquer, se constata essa sabedoria e resistência jegue. Nordestino matuto que se preze, ao lado de uma cabra e um bode tem o seu jumento que a tudo pode. Tanto é certo que Luiz Gonzaga, em parceria com José Clementino, compôs, cantou e incluiu em sua antologia principal – “Luiz Gonzaga, 50 anos de chão” a canção que lhe fizeram em homenagem: “Apologia ao jumento (O jumento é nosso irmão)”.

Papassa

Data 08/Abr/2005

     O Papa fora anunciado como morto. A maior parte da terra estava afetada. A mídia elegeu o fato como prioritário. Tudo relativo ao santo padre morto. Ocupou os nobres espaços de jornais, revista e televisão. A precoce condição de orfandade da infância. A trajetória operária do moço. Os matizes clandestinos da formação sacerdotal num país sob as ordens de uma ideologia comunista. O sacerdócio. O bispado. O cardinalato. E o dado e havido como a grande surpresa: o papado. Um quase assombro, rememorou a mídia. Afinal, era uma pessoa (embora ungida pelo Espírito Santo) oriunda de um Leste Europeu comunista.
E João Paulo II pontificou vinte e seis anos! Papa popular como nenhum. Papa corre-mundo como nenhum. Visitou deus, Raimundo e todo mundo. Ousadia reverenciada. Foi à sua Varsóvia dar o beija-mão a Lech Walesa. Foi a Cuba incomodar o Comandante. Mas também lá deu outra na ferradura: condenou os embargos de toda ordem comandados pelos EUA ao povo cubano. Papa quase assassinado. Papa cujos pendores a ator, que também buscou um dia ser, firmavam sua base de pastor do povo de Deus. Papa conservador. Deu ao dogma da Igreja a guarida necessária para resguardá-la com seu poder. Não ao aborto. Não ao anticoncepcional. Não à Teologia da Libertação. Todavia, portador de um discurso oposicional à proliferação do lucro produtor do crescimento da riqueza que aumenta ainda mais o desenfreado desdobramento da miséria. Clamou pelo fim à fome do mundo. Exortou as reconciliações entre os mais recalcitrantes adversários e inimigos. Para que a paz prevalecesse. Palestinos e judeus. Crentes e ateus. Como exemplo de ação de quem prega, num gesto de desprendimento e perdão, foi ao presídio perdoar e abençoar seu algoz. Cujo golpe pode ter desencadeado ou precipitado sua progressiva e irreversível debilitação física. Atribuem-lhe até a condição de a mais poderosa marreta das que esboroaram o muro de Berlim.
O Papa está morto. O mundo aparenta-se comovido. Suas janelas não transpiram outra coisa. A Polônia pára para velar seu filho mais ungido. A cidade do Vaticano é o palco para o qual todas as atenções estão voltadas. As maravilhas de Roma ficam por hora suplantadas. Que seu povo e os que a ela acorrem, completamente obnubilados, vão compor a gigantesca platéia de órfãos e enviuvados.
A basílica de São Pedro é o sóbrio e requintado cenário. Ali atua, em grande estilo e gesto único, num drama inigual, o ator Karol Wojtyla, investido em sua indumentária cardinalícia. É a sua última peça. A mais modesta. Mas que se reveste do evocar, do avivar as outras encenadas em vida, dentre as quais, decerto, se encontre a obra prima. Por uma semana Wojtyla representará esse ato único vinte quatro horas ininterruptas. Em sessões contínuas, cujas platéias, tanto quanto ele, estarão representando. Representando seus recalques. Representando seus medos. Representando sua insegurança. Representando suas neuroses. Representando sua potendade. Representando uma solidariedade. Representando seus equívocos.
A peça recalca e inculca a milenar sentença humana. Ou seja, a Igreja (as igrejas) e a laica riqueza vestida e revestida de reis, nobreza, generalatos, imperadores, presidentes enfecham o anel eterno do poder. Em torno do qual gira como pode a plebe, o pobre, o mendigo, o miserável. Aos quais, em certas acertadas ocasiões, permitem freqüentar a platéia com certas performances de palco.
O vigário de Cristo está morto. Por que lamentam e se enlutam seus fiéis, se o dogma prescreve tratar-se nada mais do que uma passagem, uma ascensão?: “O nosso santo padre voltou para a casa do pai”; “Ele já vê e toca o Senhor”; “Mulher, quem procuras, já aí não está. Ele subiu ao Senhor”. Que os vigaristas o façam, se compreende.
Então seriam os gestos, os atos, as atitudes de aplausos, de louvores, de júbilos. Afinal, a crer, trata-se de uma morte para a vida, conforme se diz estar escrito.
Então não se trata de uma tragédia em vida, como as que se viram e que se dão, quando menos se espera. Que causam estupor, dor, impotência, raiva, tão incompreensíveis, injustas, inumanas são. Haja vista esta recente chacina em Nova Iguaçu acometida!

 

Metrópole

Data 01/Abr/2005

     Uma metrópole assusta. Tamanho incomensurável. Que parece interminável. Que parece nunca parar de expandir-se. Que jamais é a mesma. Que feito Fênix vive fazendo-se, desfazendo-se e refazendo-se.
Uma metrópole é um poligigantesco móbile multifurtacores; multifurtadores; multifurtamores; multifurtarrancores, multifurtaodores; multifurtahorrores.
Metrópole parece-se com o ciclo da vida. No início foi mata verde com rios de águas limpas; com animais silvestres; com pássaros e insetos sendo seus habitantes. O despertar das manhãs ruidosas tecidas por relinchos, mugidos, urros, berros, gorjeios, cantares zumbidos, sons de ventos percutindo nas árvores, nos barrancos dos rios.
A pacatez das tardes modorrentas quase completamente caladas, quando a sonolência grassa pela mata. Depois as noites soturnas, quando tudo adormece, ficando vivos apenas os animais que somente à noite despertam.
E chega o tempo em que o homem a mata descobre. Instala-se com sua choça. Planta sua roça. Mata e espanta a caça. Realça um pasto para seu gado e cavalos. Soma-se a aliados na expansão do que se torna um povoado. Que ascende a vila. Que ascende a cidade. Pequena ainda, todavia já com cara civilizada. O comércio feito de armazéns, de armarinhos, lojas, açougue, bares, sapataria, pensões. E o paço municipal. O cartório. O grupo escolar. A delegacia de polícia. A coletoria. A praça. A igreja.
Ocorre de ali instalar-se, pelas razões que o olho do capital eximiamente sabe, uma fábrica. Que logo se torna indústria. Pronto: a vertigem civitas fermenta. Similares e decorrentes vêm no rastro. O faro financeiro logo planta o sistema bancário. Quando se vê, já é uma baita cidade. E querendo mais. No crescimento da cidade é que medem o desenvolvimento do capital cujo vigor expansionista é infindável.
Cidade grande é lugar de grande consumo. Querência maior do capital. Cidade grande leva a crerem ser onde a vida melhor se explica. É rica. Logo, pólo de atração de multidão de vida iníqua. Preferem-na à vegetativa, empobrecida e destituída vida das entorpecidas cidadezinhas. Preferem-na à empedernida pobreza nordestina.
Na grande cidade a vida passa mais rápida. São tantos os apelos à esperança, à cobiça, aos desejos, que o estado em que está é, para qualquer pessoa, sempre provisório. Logo, vai passar. Ainda que quase sempre nunca passe. As ilusões e os sonhos são contínuos, intermitentes, que acabam por se fazer uma condição de ser.
Na metrópole cabem os ricos, os remediados, os mendigos, os bandidos, os machos, os ambíguos. Na metrópole cabem os granitos, os neons, os grandes parques industriais com seus milhares de operários bem e mal pagos. As grandes redes bancárias com suas grandezas multiplicadas pelos eternos juros generosos.
Na metrópole cabem os megaprédios abrigando negócios, ócios, trabalhos laboriosos. Nela cabem bairros médios, bairros periféricos, bairros fétidos com seus recursos leprosos, com seus usuários arruinados.
Cabem na metrópole homens sólidos; homens sórdidos; homens dolosos; homens inescrupulosos; homens cancerosos; homens rancorosos.
A metrópole é uma espantosa síntese. Nela coexistem a riqueza, a miséria e a opulência; o capital e o trabalho. A metrópole é o sofrimento, a aporrinhação, o aborrecimento, a correria, o desenfreado movimento, dos quais seus metropolitanos não admitem se desvencilhar.

 

Páscoa

Data 28/mar/2005

     Não se tratava de estar depressiva. Não era a sua condição e situação de vida que lhe doía. Os achaques cotidianos a afetavam de conformidade com o aceitável. De conformidade com a margem de pequenos, esperáveis e incomodativos contratempos. Todavia, nenhum grande infortúnio. Nenhuma profunda ulceração de alma. Pacata rotina, bom marido, queridos filhos, emprego bem visto, salário modesto, porém significativamente longe do aviltante mínimo.
Aturdia-a de fato com freqüência as degenerescências socioatávicas em que vive condicionada a natureza humana. Por que se encaminhava a humanidade para isso? Avidamente viva, a ciência prossegue na sua perscrutação incansável dos astros próximos. E vão descobrindo estarem todos estéreis. Para o que parece encaminhar-se a Terra. Tanto lhe arrancam das entranhas. Tanta a putrefação que lhe entranham. Tantos os abates que a desgastam; que a devassam.
Prostrava-a a inapetência humana para o desprendimento (Era ver o bichos). A obsessão pelo empreendimento incapaz de tão-somente edificar, sem danificar. Tanto tempo custa à terra acabar uma árvore, aprontar uma mata, enquadrar os rios, fundear seus mares, distribuir seus animais, equilibrar seu ecossistema.
Todavia, o invento humano produz uma motosserra que a um jequitibá põe em terra em minutos; o engenho humano resulta certos dejetos que empestam peixes pássaros e os sucumbem em minutos; o invento humano produz certos produtos químicos que esterilizam o em que lhe aplicam por todo o sempre. A inata belicosidade humana germina assombrosas armas para extermínio de tudo, inclusive gente.
Acabara de percorrer os jornais do dia. A sucessividade cotidiana de catástrofes dá-se tão rápida, que se tornou um hábito com elas conviver. Matar e morrer tornou-se, não uma remota probabilidade, um fato, um ato a que ninguém escapa, tanto quando for e quando não for o caso.
Aturdiu-a aquela recente rebelião de Febem e seus degradadores desfechos. Particularmente os estupros de duas mulheres funcionárias com a função de psicóloga e educadora. Atuavam ali com o propósito de formar ou reeducar aqueles rapazes, os quais as estupraram. Esse um dos grandes riscos. O inquestionável dom da feminilidade não descaracteriza a condição de fêmea, que, por mais não queira, transpira sensualidade.
A iniqüidades. Ela ali no seu canto com seu sentimento de impotência, padecendo sua inútil dor de mundo. Temia (profundamente) muito pelo porvir. Todavia, talvez tudo não passasse de excessivas apreensões de uma mulher romântica e ingênua. Teimosamente recusando-se a aceitar as coisas como são.
Súbito, trazendo-a de volta à vida que pulsava ruidosamente pelas salas de aula, pelo pátio, pelas ruas que circundavam a escola, estacou-se ante a soleira de sua sala uma aluna, pedindo-lhe licença para entrar. Autorizada, a garotinha irrompeu até à sua mesa. Assacou de uma pequena sacola um objeto feito de papel vermelho, brilhoso, laminado, num formato que significava ser um bombom cujo embrulho conotava um miniovo de Páscoa.
Ela lho entregou, dizendo feliz Páscoa pra senhora. Recebeu agradecida, pregando-lhe um beijo, emocionada. E ficou ali por instantes em pé mesmo, o presente mínimo amparado pelas duas mãos em concha. Ficou ali observando aquele futuro repleto de viva vida presente e, certamente, de confiante esperança, ir-se cheia de si, senhora de seu destino.