Ave, Paulo

Ave, Paulo
Data 15/out/2004

     O primogênito é sempre o recomeço da nova e inédita aventura humana a se viver. O primo filho. O primo neto. Herói de todos os atos e fatos. Bandido adorabilíssimo. Concessão é a sua palavra.
E a sucessividade dos acontecimentos desta história é sem tempo. Quanto mais evolui, mais sedutora. Tanto que quando acontece um Paulo, em fase de chorão (com pinta de parrudo), nada ainda afeta. O primogênito continua sendo a festa.
Segue a história, enquanto ao segundo se dedicam os gracejos, cuidados e carinhos passageiros. Paulo é afeito a puro peito de mãe. Pouco se importa com o que se dá a sua volta. Que seja, embora, uma história bonita e bem sucedida, a verdade é que conchego e seio materno são o seu negócio.
E quanto a isso é um decidido convicto. Sem meias medidas, exige o que lhe é de justiça. E com autoridade álacre, mas incisiva. E, se preciso, protesta, grita.
Todavia, sem que mais se espere, Paulo se desprega do seio, desce do colo e se entrega ao passeio.
É certo que todo sujeito cresce, se desenvolve à medida que descobre, domina seu meio e nele se adapta. Então é esta a trilha geral que a Paulo cabe palmilhar.
Cada qual com sua sina. A do primogênito, por razões bastante conhecidas, se dava, então, em absoluta primazia. Livres vias, mínimos impeditivos. Que esses são os imediatos dotes daquele, por primeiro, por todos esperado.
Decerto o meio muito demarcado pelo outro, impôs a Paulo um acervo de empecilhos nada franqueadores, como o foram com seu irmão. Era, de certo modo, seu caminho de Damasco. Todavia, caminho próprio ao gênio daquele cristão novo: teimar contra os desafios. Impetuoso brigão pelas vontades de sua crença.
Impedi-lo demanda trabalho quase sempre parco, que Paulo é um cara determinado. Nada lhe passa batido. Tudo que lhe vai por perto é por ele batizado.
Não parece que a ele importa a primogenitude como houve na História. Paulo tanto tem de Esaú quanto de Jacó. Todavia, a grande astúcia deste não faltou nem um pouco ao primogênito. Pedro rápido aprendeu a lidar com o mandonismo de Paulo. E tampouco são gêmeos, como os da História e os de Machado de Assis.
Paulo não pede, busca. Não se importa, se o que há lhe é ou não lhe é de direito. Corre em busca do que quer, do por que briga. Puro temperamento de quem não se deixa por menos.
Assim é, porém, quando posto em estorvo. Caso não, outra é a estampa. Cara alegre de um João se faz de bobo. Riso súbito para que o outro não interfira no que lhe é a boa. Contumaz provocador que bota a gente a rir à toa.
Criatura capciosa, com quem a cordura de Pedro nunca é absoluta, pois sabe o quanto ele se infiltra e se abasta, e se abanca. Paulo não espera que lhe assinalem, simplesmente avança.
Ave, Paulo. Novo cristão de bem quista aliança, bastião segundo de um povo que se preserva na sua entrega que integra.

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