A Faculdade

A Faculdade
Data 31/out/1998

Na pavimentação de pedregulhos
do campus
cravaram canteiros:
folhagens e flores de toda ordem.
As árvores sombrias
já são rusgas
e rugas
já que em seu ponto definitivo
de belas.
As caciporeanas
já não imperam
perante o brilho dos olhos
ao sol
e ao luar.

As chamadas liberdades democráticas
é que trouxeram
o correr do alambrado
a seu único descercado.
E aí instalaram
um posto de vigilância.

Os pavilhões
nada impávidos
em sua arquitetura
paradigmática e peculiar
prosseguem na sintaxe
hipotática de seu campus.

A biblioteca apenas,
sempre inquilina,
agora se instala
em casa própria
e distinta.
Postada ao fundo
mas acima
mesmo dos flamboiãs.

Há mais pássaros,
que árvores
adultas
os trouxeram.
Ou seus trinados
são mais audíveis
na maturidade?

Agora
pelas suas manhãs
e tardes
já não arde o silêncio
da luz,
há a perscrutar
em perambulagem
a álacre infância
e a bruta adolescência.

A casa

A casa
Data 23/out/1998

A casa é a extensão do homem. Não há lugar melhor no mundo. É o seu território livre. Nela estando, fica dependurado todo um estado de ser lá fora. A casa é a sua ilha. Em tudo dela está ele. A despensa com suas provisões. A cozinha onde o fogão, onde o refrigerador, a mesa, o armário; onde postas as cadeiras. Em tudo ele é. A sala de estar. O lugar do telefone, do televisor, do som. A específica forma de ser dos aposentos. Do banheiro.Há muito que está em antigo adágio popular: quem casa quer casa.. Mesmo sendo a contemporaneidade uma época em que a mulher dela se ausenta em grande parte do dia, a casa marca-a . Dela é a casa. Ocupa-a por direito, sendo dela a sua dona. E com ela a relação extrapola em muito a mera condição de posse. Rege-a . Dota-a com seus arranjos, adornos, não importa com que móvel, da condição de lar. É, sim, a senhora dali, por mínimo ainda que seja, ao fazer da casa uma serviçal do lar. Nela se evola. A casa trescala a lavanda da sua dona. Empregna-se de sua dádiva e sensualidade. Um aroma de mãe e mulher.

A decoração tem a sua cara. Indicia sua posição ante a vida, sua ideologia. Nela, ele se entremostra já da fachada. A casa é todo ele e sua guarda.

Sendo ela o lugar da família, pode-se admitir que ali se aprende o indivíduo e o coletivo. A casa é então uma ilha-condomínio. É um dever/direito de cada um dos pais e filhos. Mas deles um lugar comum. Dá-se nela em contínuo o educar-se para o indivíduo e o educar-se para o coletivo.

Em casa alheia, por mais que lhe ensejem comodidade, o homem se sente intruso e exposto à intrusão. Se recolhe. Se encolhe. Estranha e se sente estranhado.

Sem casa o homem é um nômade. Em casa é completitude. Fora, se sente como um alguém a quem lhe falta. A casa é o eterno lugar de retorno. Perambula-se, viaja-se, todavia a casa torna-se. A casa é conchego, arreglo. Lugar de refazimento.

Casa é um homem e uma mulher com seus filhos e bichos.